segunda-feira, agosto 29

Páginas em branco

Sinto-me como um escritor intimidado pelas frases não escritas que não surgem, das ideias que prescuto mas não emergem.
Páginas em branco. Páginas rascunhadas. Páginas riscadas. Páginas pintadas.
Páginas virgens enquanto outras já foram conspurcadas pela mão humana que as borra a seu preceito.
Páginas vestidas nuas enquanto outras vestidas a rigor ou então, somente, usuais.
Páginas ávidas de palavras que as reconfortem, páginas saturadas de ideias amontoadas ao longo de linhas imaginárias.
Páginas não têm escolha em ser, desda sua idealização à concretização da sua forma, em nada este processo é sua responsabilidade, até mesmo o seu fim cabe a outros.
Páginas soltas, e em nada livres.
Páginas agrupadas em capas, que não as protegem, só as encerram.
Páginas rasgadas, dilaceradas, sem ripostar o seu fim.
Todos os dias sou esse livro aberto em ponto nenhum antecedido por folhas brancas, riscadas, ideias amontoadas, e, neste ponto, vejo capítulos arquitectados na mente, ainda por tomar forma. Partindo da ideia que a vida tem a sua génese no principio e não no fim, no amor e não no ódio, somos o que? Apenas frutos de livros de outrem, que em certa altura se aglutinaram dando nos origem, assim como, o privilegio de novas paginas.

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