domingo, janeiro 29

De que vale
Abrir a boca e falar
Quando não me ouves.

De que vale
Abrir-me e expor-me
Em frescos deixados ao pó.

De que vale
Mostrar-te quando és cego
Aquilo que vejo.

De que vale
Sentir em vez de pensar
Quando tu não me sentes

De que vale
Chorar quando as minhas lagrimas
Nao te molham o rosto.

De que vale isto tudo
Quando é te irrisório
E somente nada....
Oxalá

Aparto me do mundo que um dia para o qual morri
Sufocada por palavras que teimaram em não sair
Lágrimas que ficaram por serem derramadas
Por substituição de sorissos que não senti.

Represento na minha vida
Nao o meu papel, se calhar o de outro qualquer.
Em que grito sem soltar a voz e falo mais no silêncio
Que sobre mim se arrebata quando a noite me toma
Do que em cafés ruídosos, atolados de gente e fumo.

E quanto mais me perco para a minha solidão
Menor é o desejo de me tentar enquadrar
Nas ruas desgastadas pelo falso caminhar
E nas esquinas onde se acumula podridão
De gente que fala sem razão.

Comigo, só, tenho me a mim
Apoio constante que não me falha
Verdade que não me engana
Enquanto todo mundo perece à merce de abraços
Mentiras dissimuladas no calor de regaços.

Prefiro sentar me a margem do Tejo
Como um espectador que ve por si passar o rio
Do que ser parte de tamanho teatro sem brio.

Escolhas minhas.

domingo, janeiro 8

Sentimento do Carente Crente
Transponho a barreira protectora do meu ser.
Mendigo por mãos de amparo
Palmas plenas de amor
Calores de regaços maternais
Aconchegos para os meus sentidos
Perdidos, mutilados pelas lagrimas
Derramadas ao sabor do sofrimento
Gotículas de água insaciantes
Da sede de vida.

Soltem me a alma indomável
Dessas camisas de força rigorosas
Camufladas em abraços reconfortantes
Enganos ledos da falta de visão do carente
Crente na compaixão do semelhante.
Não me deixem, imploro
Enclausurada a um canto nauseabundo
De salas pintadas com tons sombrios.

Agacho-me perante a solidão
E a tristeza pinga me do rosto
Em formatos aquosos
Que para os quais olho e enxergo
O reflexo da minha alma vazia
Enquadrada nos contornos da minha mente
E, choro.

terça-feira, janeiro 3

Ágora de absolvição

Professo a minha fé ajoelhada nesta edificação milenar corruída pela acidez da água que Zeus acolhe no seu regaço e que sobre a terra derrama. Panteão grego abalado pela força contida na palma do tempo de Cronos. Outrora foi local de cultos a ti prestados Atenas sábia presentemente é templo reduzido às colunas esculpidas por mão divinas a céu aberto. Peço-te encarecidamente que desças do Olímpo apartando-te assim do regaço da reflexão tua mãe e te juntes a mim. Apressa-te a vires em meu alcanço que Hades acena-me com sorrisos joviais cúmplices do sombrio ser que sozinho caminha sedendo de vida. Não te atrases que a inocencia cega-me ao aproximar os meus olhos ao sol e perecer às mãos do engano não é meu intento. Preciso de saciar a aridez da minha alma com a razão que brota da tua boca. Instrui-me nas artes da guerra enquanto Temis me incute sensatez na decisão. Temo sucumbir às armadilhas dissimuladas pelo requinte dos frascos que as acondicionam que me entorpecem o pensamento. Deles não me esconder. Ilumina o chão periclitante desta acropole desbotada pelo vinho que em mim corre antes que a vontade desfaleça em folhas secas. Astreia pára de cultivar pureza no meu corpo conscuporcado pelas orgias a que me entreguei sob apanágio de Dionisio.Héstia és deusa cujas expressões não mentem. Nos teus olhos leio-te a alma reprovadora. Atenas vem a mim que ouço passos violentos apressados a virem ao meu encontro. Hermes entregar-te-á a minha mensagem de suplica. Abençoa-me com a espada que ergues sem vacilo antes que Pandora me encontre.