segunda-feira, dezembro 11

Passado de novo Presente

As minhas barreiras tremem ao sentir os teus olhos postos em mim. Vacilo, tudo o que tinha como certo torna-se, por instantes, incerto, perco os rumos correctos e dou o meu corpo ao erro de recair. É difícil, demasiado difícil, manter-me distante quando há algo que me remete constantemente para ti. Se não fossemos ambos gente de carne palpável, inteligíveis à vista, tidos como reais ao toque, mas sim, coisas, objectos inanimados salvos de todas as questiúnculas da condição humana, não seríamos implicados nestes problemas que sentir acarreta inatamente. Dissociar-me de mim tendo em vista o esquecer-te a ti, é impossível demais... Continuo sem perceber de que quê se alimenta este sentimento que se exalta ao ouvir-te ao longe! Adjectiva-lo como inexistente é futuro que não se prevê próximo. Por conseguinte, permaneço imutável à acção do tempo, padecendo da dinâmica do querer - não te querer mais. Vou me fragmentando pela força da pressão de me manter longe o suficiente para não ser magneticamente puxada contra ti. É uma força forte demais que contrapesa com a força do êxtase de um olhar correspondido prolongado num beijo e com o fardo da significação intrinsecamente sentida das palavras como saudade. Podia negar a falta que a tua ausência me provoca se dissesse que não sei o que sinto quando te sinto perto e, até mesmo, que nada sinto, porém, seria mais que mentir! Sorrio de outro modo quando juntos compartilhamos o que nos rodeia, é tão claro que sou a última a vê-lo e a primeira a senti-lo quando escasseia. Tenho saudades de ser feliz. Quando cedo à necessidade de ver satisfeita a falta de ti, renovo o ar que me vai mantendo entre as abstinências e recaídas que compõem o passado, presente e as nossas interacções futuras até que se encontre a cura para a condição emocional humana.

sábado, dezembro 2

Recaida

É difícil pensar-se num passado em conjunto quando nos debruçamos sobre um presente que se afigura tão diferente. E mesmo que tenhamos o cuidado de esconder todos aqueles pequenos símbolos do que pretendemos esquecer, continua a ser difícil, pois, há sempre algo que permanece em nós, que despoleta pensamentos e tantas outras evocações a partir do nada. Ao virarmos as molduras para baixo, ao cortarmos outros das imagens compreendemos que nada consegue dissociar a junção que dois corpos tiveram e assim, para sempre, ficaram na memória. É essa a visão que se tem e que, até a clarificação, se pretende manter. A iluminação provém do peso da realidade abatido sobre nós ao olharmos ao longe o outro corpo, sentindo na pele a separação, o desejo atroz que nos consume enquanto olhamos até não queremos mais ver e continuarmos a enxergar. É um sentimento de total impotência, tristeza, medo, vontade de retrocesso. Voltar atrás. Fazer tudo diferente para fazer tudo igual. Sentir o real assim é peso a mais para ser sustentado por um corpo que é somente feito de carne e osso. Ao pensar na minha carne, penso em ti. Na minha carne viveste tu, assim como, na mente que ela acolhe. Em suma, eras parte do que fui e isso é que pesa, reconhecer que já não te abrigo mais em mim; emancipaste-te, partiste-te e por ti caminhas-te. Por muito que diga, as palavras já não têm o peso que tinham, não conseguindo, assim, alcançar-te. Estás longe, longe demais! Longe das mãos dos braços estendidos resignados à dor que a espera lhe inflige! Longe da pele que se arrepia sozinha sem aconchegos, exasperada por um toque simples que seja tudo, que, afinal, sempre foi tudo o que quis! Deste-me tudo e eu não soube ver atempadamente o quão significativa era a tua presença na minha vida. De que importa agora a dor de sentir tudo mudado? Já não retornas.