quarta-feira, novembro 30

À Proa da navegação do Pensamento
Abandonando o acento recadato na popa....
Condenso fumo em aneis, enquanto tento também condensar os meus pensamentos em ideias ordenadas. Tal como a forma que dito ao fumo que expiro, assim são os meus pensamentos; iniciam-se perfeitos, iniciados e terminados, circunscritos a uma esfera propria até que a dada altura com a ajuda do vento que circula à minha volta estes se dissapam no ar repleto de sentimentos meus. Abro bem os ouvidos ao som que escuto, tentando me hidratar com a melodia que ecoa do mesmo. Reparo que consigo conferir perfeição a alguns dos aneis de tabaco que trago, contudo também existem excepções; uns não tão circulares, outros que nem se fecham sobre si. Acho que sou uma dessas excepções, pelo menos no modo como me sinto neste instante definido. Sinto-me tão perdida na nuvem de fundo que se concentra imediatamente à frente da minha vista, impedindo me de enxegar esta folha que me serve de apoio. Sou emulsionada em fragmentos de eu mais pequenos que o meu todo. Dividida em confuso e ainda mais confuso, em ser e ter, sentir e pensar limito-me a tentar perceber. Que tarifa ingloria, nada entendo. Talvez fosse mais fácil, levantar e voar em direcção ao céu da calmaria, da longetitude. Partir. E quem diz partir quer somente dizer fugir. Inicio a minha fuga através do percurso do papel queimado da ponta do meu cigarro. Navego em nuvens transparentes, de odor peculiar que tenta aprisionar na minha mente. Neste instante sinto-me Thorn armada de martelo. Sensação de poder e controlo. Comando os fluxos de massas de ar, as partículas de água suspensas na atmosfera, as núvens, o sol, as desgargas electricas – tudo. Fecho os olhos. Continuo a escrever, e por mais saborosa que seja esta perspectiva fantasiosa sei que tenho que retornar. Distrai-me por momentos, influênciada pela hipnotizante facilidade do partir. De volta sei e, disto tenho absoluta certeza, que tenho obrigatóriamente de seguir. A vida é um bilhete só de ida. Quero encontrar certezas que me permitam fundar os pés à terra que piso diariamente e caminhar para a felicidade. Não é amanha ou depois, é no agora que preciso de me redirecionar à minha meta. Desta ainda possuo certezas, no que toca ao resto, talvez seja melhor aguçar os sentidos e deixar-me ir no afluentes da emoção.
Passei Toda a Noite
Alberto Caeiro~

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
Reacções Químicas Inorganicas

Quero elaborar reacções entre os 28 reagentes do alfabeto e obter como produto beleza. Decantar soluçoes textuais contidas em funis estruturais rigidos do português. Extrair destes o fundamental e eliminar o liquído sobrenadante que as afoga. Pretendo que as suas colisões sejam espontaneas ao sabor dos comburentes mentais. Os combustiveís são nos dado em fracos de requinte, enclausurados pela mesma mão que os liberta. Sou operador na génese da dismutação dos nucléoticos da língua. Sou quimico que nada perde, nada cria mas tudo transforma. Componho redes cristalinas usando unidades básicas. Defino o complexo a partir do simples com ligandos aos lóbulos cerebrais. Sintetizo axónios imprescendiveis à comunicação. Anodizo os sais línguisticos com filmes de dignidade.
Ângulo 90º
que a tua sombra faz ao embater no chão.
Cada esquina é um mundo desconhecido, tantas vezes temeroso quanto igualmente ansiado. Imprimo o peso dos meus pés contra o chão, passo espaçado e seguro, sem vacilar desloco-me para aqui e para ali. Esquina atrás de esquina deparo-me com a sombra do teu corpo projectada no alcatrão da estrada que nos separa. A minha mente enloquece, o meu corpo estremece. Tento recriar à luz da carne os contornos dos teus membros obscurecidos pela luz difusa de um final de tarde. Reproduzo com fragmentos de memorias a tua voz. Demoro-me na lapidação do teu ser, tentando recriar todos os promenores que tenho vindo a assimilar. E, lá naquele canto onda a luz dobra a esquina, permaneces como se soubesses que eu te observo com visões de concupiscência. Castigas-me; com essa tua postura quase soslaia, de quem pretende demonstrar que não vê. Não penso e caminho. De encontro a ti vou diminuindo a distância que entre nos se interpõe. Não penso e atiro-me. Deixo apenas que a tua presença me viole. Não penso e sinto-te à extensão do meu braço e sucumbo às apelativas sensações maquino facturadas pelo pensamento. No final, rio-me destes momentos que nunca poderiam ser gerados por outro sentimento qualquer a não ser o desejo

terça-feira, novembro 29

Sei, Não Sei, Sinto, Nada Sinto

Queria ser capaz de preencher as palavras com os meus sentimentos, organiza-los de tal modo que me fosse possível exprimir-me devidamente. E, mesmo com o elevado número de palavras desta nossa língua que sei, estas deparam-se me sempre escassas. Ver-te é veres-me através de um espelho que só permite o reflexo da tua imagem. Não sei precisar ao certo, lá está, faltam me as palavras certas para este sentimento incerto que por ti nutro. Ou, talvez não nutra. Certezas duvidosas. És gota de água que estremece o lago turvo destes meus sentimentos. Como uma onda eminente mas imprevisivel tomas forma, na tua viagem à praia afogas-me em ti e no final o meu corpo rebola pelos graos de areia da costa. Estendida ainda exaltada pelo teu efeito, tento angustiadamente preservar estes diminutos momentos. E, quando julgo já nada mais haver para absorver olho e vejo que já cá não estás.
Convite
Convido-te ao meu decote entreaberto. Deixo a descoberto pequenos fragmentos que desejo que percorras com a tua lingua sábia que manejas habilmente. Levar-te-ei de encontro ao que, de modo desajeitado, te escondo inicialmente. Não por não te querer, mas sim por não te querer dar tudo; tudo logo de uma só vez. Acompanhados pela medolia inebriante do alcool quebraremos a taciturna monotonia da noite. As minhas mãos serãos as tuas na procura mútua do corpo. A minha lingua fundirá-se-á com a tua em gestos oscilantes e tomar-te-ei em tragos curtos de fazer perdurar o prazer. Os meus labios roçaram o pecaminoso e consumaremos o eterno pecado da lúxuria. Deixar-te ei explorar-me incessantemente; cada membro, curva, pele, nervo desta minha unidade corporea latejante de prazer. E até sucumbires ao meu decote, nada mais farei que fantasiar com noções leves e superficiais do teu toque.

quarta-feira, novembro 23

O teu corpo oculta ondas de prazer

Mundo severo dos sentidos que joga a razão contra a parede. A pele exasperante suplica toque. O corpo é um solitário pedinte que mendiga por um abrigo. Exitação é como o dinheiro que recebe. Prazer é o único contacto que pede. Somos uma mera metade de uma unidade.Unos experenciamos a eternidade; morrer sem nunca desaparecer, renascer e, pois então, sobreviver. Algésis da minha alma imperfeita . Tu és Édipo feito homem de novo, excomungado tornar-me-ei o teu único dogma. Professa o arreitamento nas linhas curvas do meu peito. A ti, escorrem fluidos de desejos imoderados. Somos cúmplices na arte de pintar silhuetas na tela e comcumitantes no eretismo do prazer. Explanamos em pautas vagidos. Entregamos nos ao abismo latente de uma queda sem fim, até às profundezas do enlevo. És assombro, coisa que me maravilha, que me prende, que me encanta e, no final, me arrebata.

terça-feira, novembro 22

Critica à Guerra

Um tiroteio. Morrem crianças; aninhadas em braços desfalecidos nas sarjetas das estradas encardidas pelo sangue perdido. Balas resvalam os inocentes pedestres, atingido-lhes a mente num rasgo certeiro. As pessoas pilham-se a monte à sombra das trincheiras. Elevam-se armas ao céu, em sinal de superioridade numerica inimiga. Pureza conspurcada pelos monstros que pussuem corpos adormecidos pelo ensurdecedor som de capsulas a espancarem o terreno. Na luta pela vida desalmada estes seres correm sem direcção. E, como se de leprosos se tratassem, vão se fragmentando ao longo da maratona que travam pela sua vida. Facas sao empunhadas sem dó, cravadas em nenhum ponto especifico. Laminas aguçam-se na pele; esborratadas pela seiva que circulava na vida que ceifaram. Os invasores reagrupam-se, cospem ordens imperceptiveis entre si e púrrios de vingança tomam pertences alheios. Não há ética que resista, nem moral que persista no meio de uma guerra pela vida. Perdem-se valores, tanto quanto perdem –se lagrimas. Ladeira abaixo, a enxurrada de dor vai movendo corpos e membros de vitimas puritanas. Espetaculo inglorio da proclamação da irracionalidade humana. Crianças orfãs, pais sem filhos, homens sem trilho, mulheres sem destino. Tudo em prole de um mundo melhor – Nugação! Morte a praga dos vivos.

segunda-feira, novembro 21

From flesh to dust....

Abrir este caderno numa página qualquer já é um acto que estranho. Dias se passaram, a distancia aumentou esponencialmente e de ti, cada vez mais, não estou. As minhas mãos tremem ao sentir a tua textura roçar docilmente nos meus dedos inseguros. E temo, temo - ó solidão minha, mais não ser capaz. Palavras geram mais que palavras; são o inicio de varias reacções que se traduzem em raciocinios. Confesso-te aqui que foram palavras desembainhadas feitas perfidas facas que me atacaram. A cada centrimetro mais adentro do meu peito maior era a hemorragia de angustia que jorrava do corte que o seu gume ia provocando. De defesas expostas, a minha confiança foi se desvanecendo. Palavras feitas intrusos violaram o meu peribolo e, sem nada fazer, apenas observando vi espezenhada a fauna do meu jardim lajeado. Desejei tao intensamente até às veias tomarem lugar na tempora, não ter restabelecido a ordem interna que me desgovernava através da derrocada do meu muro de berlim. Palavras feitas Lâmia que me aniquilam. Lúrida expressão de quem vê e mais não crê, em si.

quarta-feira, novembro 9

Vida
Interrompida
Derramo sangue nas pisadas. Ensopo os meus pés em interminaveis poças pelas pedras das calçadas. A vida escapa-me por entre os cortes profundos que me dilaceram inteiramente. As dores são como balas que me atravessam a direito, e a direito saem. Ao entrarem provocam-me buracos que não hão de sarar, o seu trajecto causa estragos irreversiveis, a sua saída é pior que a sua estadia. E cada passo que tomo, é mais um suspiro de vida que se dissapa no ar. Caminho lentamente, sem destino certo, se não, talvez, somente a morte. Tento desesperadamente inalar a vida que perco, e nada sinto – só dor. As forças padecem, o corpo perece. Divango vou errando enquanto sonhando nada atinjo. Nestes ultimos instantes que me restam vou me flagelando com xibatadas de verdade, com o fogo do arrependimento, com as vergas do engano ledo que um dia enxerguei. Sem retorno, concluo, pesarosamente que esgotei a vida. Lagrima interrompida pelo derradeiro sopro que nunca mais vivirei.
Sozinha, na calçada, sem vida jazo já morta.

quarta-feira, novembro 2

Escrever é galáxia da imaginaçao.

Entristece-me não saber o que escrever.
A necessidade é tanta e o assunto tão pouco.
Já não há afluentes que desemboquem no leito do meu pensamento.
Esgotei o vocabulario em frases que se estendem infinidamente por uma infinidavel sucessao de folhas.
Sentir escritor é sentir um artista que pega num guardanapo e rabisca.
É tanto estar aqui e não estar mais.
É viajar, tanto quanto é sonhar.
É um poder que vicia, é pensar e comunicar.
É pensar que se pode mudar. É ter noçao que a mudança reside nas mãos.
É saber que os braços não apelidam à violencia, mas sim à presistencia.
Escrever é cavar até não haver mais terra a tapar.
É deixar a descoberto um mundo incerto.
Escrever é sofrer.
É dar à luz o que queriamos matar.
É materializar o que antes era abstrato.
É uma negação ao esquecimento.
Quando escrevo é assim, uma dor, por vezes, um medo de deixar soltar livremente o que aprisiono na minha mente.

terça-feira, novembro 1

“I wanna hold you in the morning; hold you through in the night...”
Basta-me percorrer os meus inumeros textos para que haja algum que me toque em especial e, assim, me remeta para as minhas memorias. E lá reencontro-te de novo, como se à minha espera estivesses para me olhares francamente aos meus olhos cansados pelo tempo. Ha quem diga que o tempo atenua os sentimentos, até mesmo as imagens geradas pela mente, todavia eu relembro-te de todos os traços do teu rosto até ao infimo pormenor. Fecho os olhos contra a luz e ouço a tua voz , passados segundos consigo sentir o toque das tuas maos pressionando a minha pele, os meus membros, o meu corpo. Sinto o teu abraço de novo, retornando à segurança que só tu me conferes. Continuo instalada à comodidade da tua memoria, e quanto mais aí permaneço maior é a vontade de chorar. Como é dificil estar longe, longe daí, longe de mim, longe de ti. Já há muito tempo que não sentia necessidade de estar contigo, mas são estes instantes que quebram a estabilidade da minha realidade precária. São, pois, estes momentos em que me consciencializo do impacto que provocaste em mim. E dou-lhes razão, o tempo atenua mas não exilia o que nutrimos. Encolho os ombros ao ler estas minhas ultimas frases em sinal de mãos atadas que em nada podem agir face ao decorrer natural das coisas. Não há nada a fazer e pouco ficou por dizer. Vou demoradamente abrindo os olhos – o retorno é complicado – em prole de um desejo insatisfeito de te ter.
Não podendo, apenas vou sobrevivendo.