quarta-feira, dezembro 28

Traduções do Precipício

Sentimentos são o prato do menu diario de quem tem como sina o perfil humano. São estes que conferem intensidades curvileneas impeditivas à existência de uma linha recta da maturação interna do ser.Falam-se em sentimentos tanto meus quanto teus e os de todas as pessoas com impostos acrescidos por quem os vive no seu intímo. Quando se está muito emocionado não se consegue transmitir convenientemente e com teor absoluto de veracidade essa dita emoção. Nada valhem as instrospecções quando estas não passam de simples regressões incompletas. E essa sua natureza imperfeita decorre dos pequenos detalhes que se dissipam entretanto pelo ar do tempo como da propria linguagem que é tantas vezes dúbia e insuficiente quando usada para traduzir o que o coração diz. Para que então reflectir? Responde-me alguém do fundo da sala quase num murmurio: “Recordar é viver”. Chavões impiricos de saberes antigos que questiono sistemáticamente. Porque se há qualidade inerente aos sentimentos é a dualidade claramente expressa ao estilo de dois seres autonomos que entre si partilham um abraço. Se existem emoções boas de serem sentidas, necessariamente existem as más que desejamos nunca atravessar. Julgas que destas me quero recordar? Somente as quero dizimar do leito das minhas recordações. Cultivo forçosamente uma memoria selectiva esquecida com cheiro a suores de esforços fisicos extenuantes. Escorrego em poças de paradoxos sentimentos onde nos quais repouso e me questiono sobre os imperativos lideres da minha vida. A este ponto só me apetece praguejar e da janela me atirar.

segunda-feira, dezembro 26

Amor que tu foste e já não és...

Solidão sentida que me dita os pensamentos, onde na qual me isolo e tento te encontrar . Cavo buracos transformados em tuneis de paredes de eus meus ocos pela tua ausencia. Vejo as nossas memorias feitas em papel de parede, inscrições com tons diluídos por soluções temporais julgo, ou será apenas feito das lágrimas que correm em fios sem destinos pelas minha corrente sanguínea. Ao contrário do que seria suposto, meu amor – que atrevimento o meu – alcancei um estágio de plasmólise. Secura em notas húmidas. Vazio de quem desacompanhado caminha. Sozinho, pois tristeza não é companhia de valor e por mais que tente mantém um elo invisivel com a solidão que eu não consigo romper. Vivo estas noites minhas iluminada pela insuficiente luz difusa de um abajour qualquer contributiva para ambientes sombrios de introspecçoes sem brio. Embrenho-me nestes humilhantes retrocessos flageladores da pouca dignidade que me sobrou. Dissabores em pontas de línguas um dia unidas. Não te procuro a ti, desculpa se te induzi em erro anteriormente. E se falo em ti é por um dia ter sido num escaninho oculto dentro do teu ser que achei o que um dia julguei ser amor.

segunda-feira, dezembro 19

Quando o meu sonho és Tu...

Vejo vislumbres da tua silhueta sob mantos de sedução;
Observo o delicado modo como te estendes ao longo do colchão,
Perco-me nos traços do teu corpo semi-coberto até ao canto da tua boca
Onde me imagino absorvido por tudo esse fluido escorrido
Por dois montes de suicidios - carnais tanto quanto mentais -,
Que se encerram em húmidos vales de perdição
Sonhos meus, apenas teus por serem os teus lábios.

O teu corpo ondula em efeitos inconscientes de pulsões inquientantes
Que provocam mudanças na posição de sono e,
Os fragmentos antes cobertos e agora descobertos da tua pele
Assolam a minha mente em trajetórias cur(vil)neas
Cruel visão tua em que me vejo deitado a teu lado sem o estar
Onde os teus seios tao trilhos ermos que escondem nascentes aconchegos
Que ambiciono degustar e deles me embebedar.
Sonhos meus, apenas teus por serem os teus seios.

O teu sono demora-se como a minha satisfação tarda em chegar
Os fios do teu cabelo, que te adornam o rosto, roçam o tecido da almofada
Em que a tua cabeça repousa, impregnando-os da tua essencia.
Como queria mergulhar neles e inalar-te até à exaustão.
E neste meu sonho, também teu apenas queria ser o teu objecto de afeição.

sábado, dezembro 17

Capela Sistina

Outrora a inspiração deparava-se como uma fonte inesgotavel, hoje é só uma fenda na rocha seca de tanto ser bebida. Vivi tempos medidos em dias apenas do consumo de palavras. Dediquei-me às obras como Miguel Ângelo à capela intemporal de crenças. Nelas empregnei todo o meu ser, assim como, tudo o mais que tinha. Nunca menos. Dei à luz da tinta toda a minha mente em formato de poesias versificadas. Despi as letras até a sua crua forma desnudada de juízos. Do seu coito resultaram palavras confessadas em jeito de corpos unidos. A minha decomposição nutrirá a terra com murtalhas de palavras silenciadas. Pois, sou somente palavras aprisionadas à carne de inumeros atentados ao pudor. Pintei na cupula imagens literarias fieis ao meu mundo responsaveis pelo choque de outros tantos mundos. De novo como o mestre não me preocupei e arrisquei-me a deixar a mão ser comandada pela pulsao interna da imaginaçao, da arte que fluí irreflectidamente. Expos-me em frescos datilografados ao pó do ar, que o tempo fará questão de esconder. Vivi e vivo para ti óh catartica escrita minha, que me vais mantendo viva e me impedes de permanecer sozinha.

terça-feira, dezembro 13

Sem ti, não há unidade
Nota melodicamente triste que enaltece a solidão. Notas que se ligam em compassos de sentimentos flagedores, que se encerram em pautas de recordações minhas. Os vocais de tais músicas passadas têm o timbre da tua voz e a letra de conversas só por nos faladas. Como se não bastasse a tristeza que me inunda como o som invade a mente, as batidas são pancadas de saudades. Nada mais tenho agora que os traços atenuados pelo tempo do que um dia foste. Lembrar-me de ti é esquecer que um dia te perdi. É um retornar evocado de uma alegria que nunca mais vivi. Sem ti, perdi-me. Indivisiveis; como a nota pertence à pauta, como as palavras pertencem aos textos e destas não se podem separar, assim fomos nós. Assim já não somos. E, também as minhas lagrimas são pedaços de notas intensamente dolorosas. Mas a sua musica não tem o som da tua voz o que me relembra que cá já não estás. Incompleta deixaste-me.