segunda-feira, dezembro 11

Passado de novo Presente

As minhas barreiras tremem ao sentir os teus olhos postos em mim. Vacilo, tudo o que tinha como certo torna-se, por instantes, incerto, perco os rumos correctos e dou o meu corpo ao erro de recair. É difícil, demasiado difícil, manter-me distante quando há algo que me remete constantemente para ti. Se não fossemos ambos gente de carne palpável, inteligíveis à vista, tidos como reais ao toque, mas sim, coisas, objectos inanimados salvos de todas as questiúnculas da condição humana, não seríamos implicados nestes problemas que sentir acarreta inatamente. Dissociar-me de mim tendo em vista o esquecer-te a ti, é impossível demais... Continuo sem perceber de que quê se alimenta este sentimento que se exalta ao ouvir-te ao longe! Adjectiva-lo como inexistente é futuro que não se prevê próximo. Por conseguinte, permaneço imutável à acção do tempo, padecendo da dinâmica do querer - não te querer mais. Vou me fragmentando pela força da pressão de me manter longe o suficiente para não ser magneticamente puxada contra ti. É uma força forte demais que contrapesa com a força do êxtase de um olhar correspondido prolongado num beijo e com o fardo da significação intrinsecamente sentida das palavras como saudade. Podia negar a falta que a tua ausência me provoca se dissesse que não sei o que sinto quando te sinto perto e, até mesmo, que nada sinto, porém, seria mais que mentir! Sorrio de outro modo quando juntos compartilhamos o que nos rodeia, é tão claro que sou a última a vê-lo e a primeira a senti-lo quando escasseia. Tenho saudades de ser feliz. Quando cedo à necessidade de ver satisfeita a falta de ti, renovo o ar que me vai mantendo entre as abstinências e recaídas que compõem o passado, presente e as nossas interacções futuras até que se encontre a cura para a condição emocional humana.

sábado, dezembro 2

Recaida

É difícil pensar-se num passado em conjunto quando nos debruçamos sobre um presente que se afigura tão diferente. E mesmo que tenhamos o cuidado de esconder todos aqueles pequenos símbolos do que pretendemos esquecer, continua a ser difícil, pois, há sempre algo que permanece em nós, que despoleta pensamentos e tantas outras evocações a partir do nada. Ao virarmos as molduras para baixo, ao cortarmos outros das imagens compreendemos que nada consegue dissociar a junção que dois corpos tiveram e assim, para sempre, ficaram na memória. É essa a visão que se tem e que, até a clarificação, se pretende manter. A iluminação provém do peso da realidade abatido sobre nós ao olharmos ao longe o outro corpo, sentindo na pele a separação, o desejo atroz que nos consume enquanto olhamos até não queremos mais ver e continuarmos a enxergar. É um sentimento de total impotência, tristeza, medo, vontade de retrocesso. Voltar atrás. Fazer tudo diferente para fazer tudo igual. Sentir o real assim é peso a mais para ser sustentado por um corpo que é somente feito de carne e osso. Ao pensar na minha carne, penso em ti. Na minha carne viveste tu, assim como, na mente que ela acolhe. Em suma, eras parte do que fui e isso é que pesa, reconhecer que já não te abrigo mais em mim; emancipaste-te, partiste-te e por ti caminhas-te. Por muito que diga, as palavras já não têm o peso que tinham, não conseguindo, assim, alcançar-te. Estás longe, longe demais! Longe das mãos dos braços estendidos resignados à dor que a espera lhe inflige! Longe da pele que se arrepia sozinha sem aconchegos, exasperada por um toque simples que seja tudo, que, afinal, sempre foi tudo o que quis! Deste-me tudo e eu não soube ver atempadamente o quão significativa era a tua presença na minha vida. De que importa agora a dor de sentir tudo mudado? Já não retornas.

domingo, novembro 19

Natureza Mundana

Revejo a iconografia da nossa vivência conjunta; essas pequenas imagens estáticas representam o melhor que compartilhamos. Tenho a noção, contudo, que o conceito nós se encerra com essas memorias selectivas que subsistiram à passagem do tempo. Já há muito que se diz: contra factos não há argumentos. Perante tudo isto, resisto, continuo a existir. Não peso as atitudes tomadas anteriormente nem sou assolada por ressentimentos ou coisa que lhe valha. Sabes, ainda respiro, agora, com mais fervor e maior ânsia de vida. Almejo possuir tudo o que rescindi até às mais pequenas coisas que noutros momentos não vivi. Voltei a mim, minha morada querida, ao meu abrigo que é o meu corpo que vai dando guarida à minha mente. Reconheço o que conjecturo como sendo algo que anteriormente me proporia alcançar. Sou forte de novo, imparável, armada de forças que contigo um dia esqueci. Voltei a sorver os sulcos adocicados de uma vida boémia! Embriagada pelos prazeres da vida, assim me sinto, enquanto me sento à beira do abismo e vivo ao extremo tudo o que a vida me vai proporcionando. O tempo de ser aquela que perspectivaste como teu complemento acabou. Findaram-se as cedências continuas a par da minha paciência. Não quero mais me sentar à mesma mesa. Ouve, que neste instante, professo-o alto e em bom som: Não! Naturalmente mundana, um dia me castrei, contudo, contra facto não há argumentos, não me esqueci do que fui, não quero ser mais o que me tornei, sou de novo o que me mais me convém: boémia!

sábado, novembro 18

Vejo Prazeres, Sinto Saudades

Zango-me inutilmente, é fado de quem pretender possuir o que das suas mãos foge. É o meu, destino já previsto, contudo, apesar de sabido foi na mesma escolhido. São estas as frustrações que carrego por oscilar entre a força e a fraqueza que a carne impõe. Emendo, agora que ponderei, são desejos que transpõem os sistemas fisiológicos que vão mantendo o meu corpo na sua homeostasia ténue. É um querer além do corpo, é almejar a totalidade singular da tua alma encerrada nos teus limites carnais já por mim tocados e que, hoje, às minhas mãos escasseiam. Faz-me falta o teu formato tosco, por vezes, patético, que apresentas enquanto gente. Dizes-te pessoa e és percebido pelas minhas mãos como tal, quando te acaricio e me aqueces os dedos, as palmas, as minhas mãos por completo. Vives no prolongamento que una à tua carne minhas mãos formam. Aqueces-me, sei que vives e, naquele instante, compartilhas vida com a minha. Providencias-me o sustento à minha vida sem alentos, cheia de suspiros, medos, receios. Temo, constantemente, que naqueles ápices que a tua mente promove que me abandones. Coloquei em ti a fé de acreditar um pouco mais, o credo de sentir a alma para alem da mente. Jocosamente, substituem-se posturas, acabando, por fim, os dogmas inalterados. Perspectivo a carne da tua memoria como fonte de prazer onde me deitei e me deliciei, todavia as lembranças aí se findam. Resta-me boca aguada esperançosa por outras bocas cujos lábios sobre os meus sobrepostos me aqueçam interiormente. Vejo prazeres, sinto saudades...

segunda-feira, outubro 30

Menu Da Tua Curta Vida

Peço exasperadamente a essas forças, que alguém diz haver e que lhes atesta grande força, que me tirem, até que seja à bruta, isto que vive dentro de mim! Rasguem-me!, dissequem-me segundo esses planos axiais do corpo a minha carne ao meio, expondo as minhas entranhas infectadas pelas emoções em que me habitam. Sinto-me apodrecendo por dentro, numa lepra crónica alimentada por um sentimento cuja existência não consigo deixar de negar. Sinto. Sinto muito, lamento. E enquanto escrevo, o quadro clínico agravasse com contribuições em larga escalada da minha mente que persiste na consciência de estar doente - penso em ti.
Um toque comum, aparentemente banal, e nas minhas mãos abriu-se a brecha de entrada à tua vinda.. E entras e vais longe, viajando pelo meu corpo, acomodado no meu sangue impulsionado pelas arritmias cardíacas que o meu coração vai sofrendo em meus ataques de ansiedade em que te espero e tu não vens. São desgastes adicionais à minha saúde que se perde a cada ventilar de falta de ar. A manutenção da minha vida dá lugar a uma insanidade que ocupa uma carne já não una. O que vai sobrando do meu corpo enlouquece, a par de uma lucidez caída na calçada da minha perda. Alojaste-te em todo o lado, chegas-te e encostaste-te, sabe-se lá, ajustaste-te às paredes das fossas em que enterro as minhas memórias. Inscreves-te na parede da minha lembrança. Vives na minha carne, sobrevivendo do consumo dos meus restos. Deliberadamente, te vais deliciando com as minhas vísceras, teu prato do dia, menu da tua curta vida: eu!

terça-feira, outubro 3

Por ti, figura ausente

Por ti, figura ausente, fizeram-se curtas as distâncias, palmilharam-se as diferenças que nos apartavam os corpos até ao ponto em que, juntas, as nossas respirações tornaram-se unas. Por ti neguei ao mundo, negando-me assim a mim, o outro meu lado que a nós era incompatível. Sacrifiquei-me; por um bem que me parecia superior, por todos os momentos em que juntos faziamos sentido, pelo que contigo sentia. Tudo o resto, num ápice, se tornou secundário tanto quanto insignificante. Mudamos, pela acção conjunta que empreendemos ao nos unirmos... Hoje; todas as abdicações passadas me retornam com folêgo renovado, múrmurando lamúrias incessantes, relembrando me de tudo o que não vivi por ti, figura ausente. Mal contigo, pior sem ti... Pior contigo, mal sem ti. A nós não nos foi concedida a benção do equílibrio, mas, sim, o fado de nunca bem estarmos. Esqueçi-me da minha outra face, para que ambos podessemos parecer o mesmo. Humanizaste-me os sentidos endurecidos por uma intelectualidade racionalizada ao extremo. Tiraste-me a razão que me munia. Armaste-me de um sentimento que acalentaste com as tuas parcas palavras. Sucumbi, culpa minha. No fim de contas, distingo, no meio da mescla de sentimentos que me tornei, saudades de contigo fruir a monotonia do nada fazer. Até mesmo esses momentos eu apreciava... Estamos presos, encarcerados, resignados a uma via sem sentido e, mesmo assim sendo, enveredamos na mesma vezes sem conta. Relações ciclícas como a pujança da minha mente que forte se fragmenta e fraca se torna. Vou-me abaixo; desejo que voltes. E voltamos, ao mesmo que nos fez pela primeira vez separar – a grande diferença que entre nós vive. Sempre soube que sentir de pouco valia... por isso mesmo, vivo desta minha memória selectiva que só o bom regista e de uma mente que só o bom recorda. Não quero mais estar contigo, quero somente te relembrar....

quinta-feira, agosto 17

Garrafas sem Tara de Retorno

Cesso o ver ao pousar as minhas palpebras totalmente sobre os meus olhos. Não quero ver mais do que aquilo que imprimido na minha íris gravado ficou-me na mente. Suspiro; para mim chega. Mudem-me o estado, estou ausente. Interregno ansiado que exasperante me tomou a mente e me agitou as mãos. Tremuras irreflectidas corporais alongadas pelos intervalos de tempo. Parou!, que se pare a vida e o caminhar do tempo, essa medida de todas as coisas perecíveis. Morte à memória, primeiramente, para que então se possa atingir o verdadeiro alvo: a recordação. Sou poetisa das memórias prosaicas. Vivo do ar viciado do passado, sempre o mesmo respirado, nunca renovado. Sistemáticamente me reporto ao que já se findou, às coisas que existiram cujo carácter fora sempre breve. É o meu modo de lhes negar o fim, de me negar a mim o fim, de ver o que assisto diariamente sem enxergar. Memórias, barcaças das minhas evasões desta realidade presente. Recordar é o meu modo de obrigar a vida a continuar. São vícios do corpo irreprimíveis como os fumos saturados a nicotina que inalo, assim como, os bebericares adociados dos nectares embebedados. Bebidas alcolizadas, não é o corpo, são os líquidos que nele circulam, a carne é notóriamente jovem incurruptível. A carne não se contamina é a mente que sucumbe e se vicia! Vícios, transtornos, reflexos de uma mente desajeitada clarificada pela benção das uvas brancas. Tranlúcidas àguas vertidas do rosto, remorsos aquosos, pesares que empurram as àguas face abaixo e me pingam no copo diluindo os seus fortes conteúdos. Abaixamento das densidades!, a dor continua a mesma a vida é que se distende ao sofrer a dilatação do tempo. Choro. Navegações elitistas. Somente as tristezas embarcam nas barcaças atracadas ao meu Tejo. Porto de partida aos destinos escolhidos no meio do que já se devia ter esquecido. Tristezas, rumos a outros aconhegos. Recordações minhas traições dos principios que professo ao elevar ao alto a voz. Luto, sim! O retrocesso é a minha guerra. Permitam-me que descarregue no rossio do sorriso que no passado tive a minha presente tristeza. Só mais um golo, um pingo que seja, uma gota da felicidade que experiencei cuja marca na mente guardei que de tantas vezes relembrada se foi bebendo. A garrafa está quase vazia, pára tudo!

segunda-feira, agosto 14

Curtidos

Indefesa me sinto aquando da falta tua. É bruma que me envolve, água ardente que me consome, me queima com a chama da luz que perdi - nos seus braços toma a protecção que contigo levaste assim que partiste. Molham me o rosto os contentamentos idos com a corrente. Á sua partida tudo já eu sabia. Conhecia os hipotéticos, os ses constituintes dos segundos que voam diariamente que me levam consigo nas suas asas aladas por um sonho. Voo, rasgando o firmamento, o céu por inteiro em busca das luzes que as fotografias nossas passadas tinham, aquela cor antes de hoje estar desbatida, como eramos nós antes de sermos curtidos pelo tempo.
Tudo Perece na Mao do Esquecimento, Excepto Nós....

Tudo hoje me reporta a nós. São murmurios longíquos de um passado que consumamos a dois que, gotejante, hoje me pingam o rosto. Dissabores diários ou talvez apenas de hoje enquanto de ti me vou recordando. Tudo hoje me pesa; as memórias, as imagens mentais que se vão deliniando pouco a pouco com o lápis que a saudade escreve. Não sei precisar o que se passa com a minha vista que hoje tudo enxerga de outro modo; modo esse como nos servimos da casa, os locais onde nos deitamos, as paredes que nos encontraram, os obstáculos que se imposeram nos nossos trajectos, o chão sobre o qual caimos enlaçados nos nossos corpos. Abro as janelas ao ar, ao ar desses tempos que já vão longe, ao ar de outros ares, ao ar que respiraste comigo, ao teu expirar. Inspiro de novo o cheiro teu intensificado pelo desejo te me sentir abraçada por ti como naquele ontem que irrompeste porta a dentro e me tomaste em ti. Já lá vão, caminhando em direcção à morada inexistente do esquecimento, esses reais sentires. Presentemente o teu rosto não é mais que uma ilusão que as minhas mãos fantasiosas acariciam. Não és mais o que para mim um dia foste. És a sombra que me encobre o rosto quando a noite me procura. Pesam-me estes pensamentos secos despojados do encantamento teu registado na minha mente. Temo, tudo mudou e nós também. Procuro em mim a negação do que hoje já não somos. Procuro para mim o que um dia fui para ti, procuro somente um pouco do conforto, não o teu, mas sim, como o teu. Minto, ou talvez omita... São saudades.
Suaventemente o vento passa,
Numa rissada mais grosseira me ataca;
São chicotadas que me trespassam.
Dão ao ar as vistas da minha entranhas
Remexidas pelas brisas que as envolvem.
Sou eu envolta nos ares destes dias
Exasperante pela oxigenação insuficiente;
Inalo e nada respiro. Grito, tudo permanece.
Olha a calçada que pisas, essas pedras polidas,
São os retratos das fricções dos meus despojos
Contra o chão.

quinta-feira, julho 13

Obscura Sanidade

Pouso te os dedos sob a tua tez docemente ruborizada pelo calor sereno que emanas, acarício-te a face enquanto te fecho as pálpebras. Fecho os meus olhos contigo também, não vemos, pelo menos não muito além que a distância que os nossos corpos se encontram. Abraça-me que o corpo pede, a alma grita exasperante pelo conforto do teu toque de serenidade espelhado na minha pele. Vem ficar comigo nesta noite de sombrias oportunidades cujo breu tom encobre o desconhecido e enegrece-nos a cara. Escondidos nas sombras urbanas, sentados à esquina da emotividade onde esta se dobra e a razão se inicia, somos nós esses corpos que ao longe ninguém vê. Dois pontos negros banhados pela ausência do luar nocturno. Abraçemo-nos que o escuro, progressivamente, nos suga o calor e ao frio vai dando alento. Aquece-me o corpo que a mente já há muito enrijeceu. Deixa-me ter em mim, um momento só, para que de ti possa eu beber a serenidade que da tua boca escorre! Não existem olhos postos sobre nós, não temas, tu não vês. Nem eu. Com o toque da minha mão, contornando-te o corpo, sentindo-te por baixo dessa roupa que te cobre, toco o que a vista devia sentir. Lamento as luzes que outrora alumiaram-me o caminho, encadeando-me a vista. Fui muito mais cega ontem do que hoje enquanto contigo permaneço sem vista. Fui maior mistério à luz deste meu passado do que ao escuro de hoje, em que não me vês o corpo ou somente vês além deste. Tacteio o escuro os lábios teus da minha saciedade, o teu cheiro que em mim se entranha – a minha vaidade! Corpo do meu prazer, dogma ao qual me converti, sabor para o qual todo o meu palato dei - minha loucura em ti! Deixa-me tudo ser que tu não vês...

quarta-feira, junho 28

Evasão.
Sou pêndulo e oscilo, oscilantemente instável - deslizo.
Vagueio errante, levando a sombra de mim,
Companhia par do meu eu oco,
Carne flagelada pelo ricochete ecóico.
Vozes que já não ouço, icones
Datados aos passados amplamente distanciados
Dos hojes que seguro sobre a caneta e escrevo.
Esferografia alada.
Fonte que me asa a essência terrena
Que me evade nas suas asas de tinta.
Quebrantes voares dos céus de hoje,
Voos de rota ao passado.

segunda-feira, junho 19

Conformismos Idos

Este episódio vive em mim, somente, sem datação nem espaço temporal. Lembro-me da temperatura amena que se fazia sentir. Do espaço sobraram-me memórias imprecisas, temo, não ter sido tempo mas sim teu corpo quente contra o meu que se fez sentir sereno ao me trespassar que me aqueceu as reminiscências. Recordo-me com nítidez as visões fotográficas pela dilatação da minha objectiva ocular ao te ver fluir com tamanha leveza que julguei brisa que nos envolve num beijo que se demora e quando parte sua presença permanece como se ainda estive presente. Marcos além do tempo, desse dito tempo de juntos sermos, de negarmos conjuntamente a distância corporal. Ímpetos que nos reportavam magnéticamente um para o outro, força electromotriz incontornável que, aos sentires das mesmas, nossas bocas se calaram e a voz que desta brotava era melodia desejada. Foi desejo, areal do ensejo, brisa oportunista que num levantar mais grosseiro deixou teu corpo exposto ao meu olhar de desejo. Fui impelido contra o teu corpo, mão que cuja cara nunca deixou ser vista, desta sobra-me as marcas da sua investida, o pesar da alma de te sentir exausta pelo tempo que se conta desda tua partida. Vagas que nos molharam os membros, humidificaram-me agora a cara. É este o sal das memórias empedradas. Fui Ícaro em teu corpo alado, Teseu no teu mar Egeu que navegara, Gama que dobrara teu cabo de perdição. Perdi-me para ti, numa emoção que me consumiu, visão mais que perfeita que se chamava amara. Passados que substituiram os termos, de perfeito a partícipio passado – esquecido, perdido, ido. Morto.

domingo, junho 4

Cores suavizadas pelo curtir do tempo.
Tintas que secaram ao serem escorridas através dos
Esculpidos leitos ao longo do rosto.
Tuas nuvens carregadas, teu semblante pesado
Fartos fardos empelhados em cima dos teus ombros.
Reminiscência icónica tua - teu rosto de dor.
Expressão vertiginosa do declínio do pundonor.
Resta de ti ave sem asa.
Homem sem palavra alada
Somente árvore abalada.
Ramos teus lambidos pelo vento
Fustigados pelos horrores deste tempo
Deuses sem templos.
Ecóico amor de outros tempos
Orgias bebedoras dos contratempos.
Haveís Vós, Temo Não Terdes Visto

Haveís ouvido vós, única vez que fosse,
As notas das nossas vozes quando, em uníssono,
Se unem e se amam nos recantos das pautas
Inscritas nos traços das claves de sol?

Haveís saboreado vós, demoradamente em
Seus palatos, as texturas acetinadas da pele
Que a vós foi dada à expressão de sua fome
Trémula, exasperante de sua boca?

Havéis reparado vós, em meus sentimentos alados,
Meus rios descurados, jardins de líros maltratados,
Rosas apagadas, rubor sem compleição de minha tez,
Lívido caule sem flôr?

Haveís vós olhado ao seu dorso vendo me caminhar?
Não, vós não me haveís visto, nem dito como icónica
Imagem talhada nas suas emoções deslavadas, a horrizada
Sensação de ser se abandonada pelas águas que secaram,
Cujos céus negaram o verter e seco meu cálice deixaram.

Haveís colhido vós, minhas sépalas partidas fluantes
Deambulantemente encantadas pelas cores do vento?
Vistes vós me fragmentando, errando sem direcção
Além destes nossos tempos em que não havéis fazido
Nada mais que me fustigar a coroa do meu enraizamento
E de estame em riste meu envenenamento.

sexta-feira, junho 2

Penso e largo o que pensei – tento.
Contudo, sei que falhei.
Penso, esqueci-me do que sei.
Esquecido ficou o que julguei.
Preso a mim está o sentimento que errei.
Não sei porque contra isto lutei.

É pérfido e malicioso,
De tenro aconhego,
Me manipula, me prende,
Tira-me todos os desejos
Substitui os ensejos pelos
Ausentes beijos.

São aguçadas lanças trenspassando o ar
Se vierem de ti matar-me-ei primeiro.
Vassalagem aos sentimentos
Escrava dos acasos que nunca quis dar asas
Que alados um dia se tornaram
De mim a ti viajaram.
(Pareçe-me que nunca mais me retornaram.)

Vagarosas horas que lentas presistem
Insistindo nas corretentes dos leitos,
Que tememos, eu ao menos, ja terem ido.
Escondo-me, são os intintos.
Inebriações dos vinhos tintos
Dou lhe a alma da carne
Carne dos meus sentidos
Ímpetos dos destinos.

Contra as conjecturas destas
Linhas brancas saturadas
Suspiro e desfaleço,
Perco a vida, o rumo.
Sei, não te mereço!

quinta-feira, junho 1

Sentimento Tosco

Olho-te minuciosamente o rosto
Sobre o desgoto de não mais o ver.
Tremo a insegurança de te perder,
Nao mais ver e então perecer.
Temo os fins e teus não retornares.
Desejo o apartar nas minhas mãos matar.

Ameaçantes desabares tal pulsante aniquilar,
Mais não posso que esperar,
Secretamente desejar,
Confrontos vaivem de vir e ir
Não te deixem partir.
E tu possas, então, ficar.
Periclitante felicidade sustida p’lo
Ar que tua presença me dá,
Se partires me faltará!

Expressões do teu corpo deposto
Tamanhos sentimentos toscos,
Sem os quais serei sempre louco.
Proeza da arte que arranha,
Alma que sofre sua entranha,
Que transfigurando-a aos pedaços
Dá de si sua façanha.
Rendido deixa me a face surpresa
Por preso ter sido um dia
Por amarras que não desprendiam
Até ao dia da ira da partida.

sexta-feira, maio 26

Parcas Palavras

Parcas palavras,
Trovas que não aprenderam
Que jus não fazem ao que sinto.
Indelével marca tua perpetuada em mim;
Inscrições ausentes, somente memórias,
Dias passados assim.
Modo que é particular teu
Outra face que é do meu.

Jeitos das palavras tuas que absorvo
Convertidas em outras tantas que nem sonho
Sensações que palavras não merecem
Descrições que só as vistas sentem
Percepções além dos ditos
Que sobre mim recaem.
Ardores dos Lábios Transtornados

Ardores dos lábios transtornados
Que em si ainda não se sentem
Divagações labiais nas terras das tuas bocas
Terrenos emotivos férteis que em mim
Cultivam na árida terra das contentações
Os gemidos de mil paixões.

Púbere menina deliciada com as consagrações do
Novo velho toque tido sempre como primeira vez
Que tu a mim me tomaste na palma das mãos
Fechadas uma sobre a outra enclausurando
Desejos, de te ter mais além que aqui
Não tão pouco ali, vagidos que se propagam,
Direcções que às quais rumo não foi dado
Passados à vista!

segunda-feira, maio 22

Com as mãos postas no escuro sobre a carne das estrelas...

Lá ao longe temo,
Não ver as realizações das estrelas
Breu sugador das claridades noctívagas
Que tu não embalas –oh noite-.
Desejos que não dormem nem se acalmam
Nem nos teus regaços nocturnos.
Ritmos prementes das oscilações das vontades
Reflectidas nas lágrimas soltas nos recantos
Das alegrias.

Feliz o sou mesmo não vendo,
As iluminações acessas das calçadas do futuro
Prefiro acreditar na firmeza dos passos
Em oposição à meta que não descuro
Não esqueço pois a minha mente me relembra
Mesmo quando com a noite me deito
E com o dia adormeço.

É ver com os olhos intimos
Os destinos que traçamos com as mãos
Da nossa carne, escritoras dos sonhos
Que a nossa carne repleta almeja.
Sentir o pleno dos sentimentos da concretização.
Paixão de vida!
Brindemos.

segunda-feira, maio 15

Inundações

Tudo me percorre;
Movimentos oscilantes
Curvatoras ascendentes
Antecedoras das quedas
Introspectivas em mim.

Tudo o que sou ou não
Jaz no fundo dos poços
Onde as luzes não penetram
Locais que os calores não chegam
Nem aconchegam.

Acomodo-me às paredes nuas
Inscritas com as memórias da vida
Talhadas na pedra à força de um esforço
Maior sacrificio que não pia.

Falha-me a voz das constações cujos
Conformismos calaram num gesto só
Como quem na mão ergue mordaças
Silêncios prolongados que me tomam
Semelhantes aos meus perderes

Privações dos contentamentos mortos
Pela longevidade do tempo
Felicidades que pacedem a par da ruínas
Sinónimos da presente decadênciaDe quem no poço se escondeu e lá morreu

sexta-feira, maio 12

Tudo outra coisa mas não eu

Brisas quebrantes
Fissuras que em mim nascem
Que ao longo do meu corpo se abrem
Brechas que ao mundo meu corpo dão
Acompanhadas pela minha alma!

Contaminações da atmosfera por
Sinonimos meus; signficados do mesmo
Significante insignificante capacidade pensante!
Não quero mais fluir não fluindo
Degradações abstractas do pleno sentido vivêncial da
Carne percepionada como tudo.

Ergo as palmas fechadas sobre os meus eus
Colhidos pelos caminhos que enveredei
Somadas não dão eu!
Irreconheciveis pedaços da alma
Que de mim fugiu!

Tudo de mim se aparta em outros seres
Que são tudo outra coisa mas não eu..
Prolongamentos estrelares dos olhos que teimam
Em me unir em pontos descontínuos...

quarta-feira, maio 3

Orações Subordinadas

Baixo as mãos – ah! – desilução...
Expectativas estilhaçadas pelas esquinas.
Líquidos vertidos
Condensações das neblinas.
Desabamentos dos desejados
Nas calçadas dos inesperados.
Escassa precisão das previsões
Vontades suspensas à tona
Coloidais soluções
Imergentes perturbações.

Visões, quão negadas sensações
Assumpção dos incertos como certos
Crenças cegas nas consumações
Dos fardos agrupados em desejos.
Ignorância forçada,
Forjada a mentes fracas.
Escapatórias unificantes dos
Seres fragmentados à custa das
Reais cissões.

Equívocos de quem não leu os
Trâmites do contracto,
Acordos tácitos sem vírgulas
Dor sem medida
Frases sem ponto da vida!

terça-feira, maio 2

Ludibriares da Vista

Ilusões projectadas na vista.
Sedutoras tentações;
Apelos que a vida sedente pede o gosto.
Corpos gritam com vozes mudas lamúrias
Constestações mimadas
Almejares cobiçantes disfarçados a desdém
Confissões não assumidas em tons altos
Atestadas pelos agires corporais.

Convergires das vontades em corpos
Moldados à medida indefinida das carentes
Caricias ausentes dos toques que se esperam
Adiadas sensações pelos tempos -
Sucessões temporais desesperantes -,
Exasperantes negações!
Vendas que se pedem com urgências
Tapares dos enxergares da mente.

Mescla heterogénea dos caprichos;
Desejos súbitos sem berço dissolvidos
Nas fraquezas da razão face à reciprocidade
Dos enlances de corpos com corpos
Da coragem que se acovarda perante a solidão.
Garra que se perde sem as amarras carnais.
Outros que se vêm ao longe como resposta às
Questões não proferidas
Avistamentos solucionais.
Choques da razão contra as paredes não sustidas da
Sensação.

segunda-feira, maio 1

Barcas que deslizam invísiveis sobre os rios....

Memorias;
Barcas atracadas às docas
Dos meus portos de abrigo.
Voluptosas viagens,
Deleites pessoais nos resentires
Dos trespasses das águas tépias
Outrora aquecidas pela pressão
Das felicidades não esquecidas.

Exilio-me nos convés
Dos barcos que se apartam da terra
Avistamentos ao longe do passado
Terrenos que nunca já mais ninguém pisou
Ilhas minhas para as quais migro
Quando em mim viajo por dentro
Deslocalizações da mente sem corpo

Coordenadas imprecisas
Sem números que as definam.
Viagens sem mapas.
Erupçoes vulcanicas sem datação
Edificações abstractas que me encerram
Com vistas que se estendem para lá do pontão.

domingo, abril 30

Hoje quero sair só!

Hoje quero sair só! Desejos dos apartares de tudo o resto com que nada lucro. Sorvi os brilhos até à opacidade. Não há nada lá fora que me prenda a vista. Novidades findadas nos prazeres do experienciar. Findadas alegrias do descobrir. Resta-me o que não vejo. Espectros invisiveis que de mim se escondem sob comprimentos de onda que à minha vista é negado o descortinar. Hoje eu quero sair só. Sozinha sem ninguém que caminhe a meu lado invisível e que das minhas distracções se aproveite. Consentimentos não dados ao comensalismo. Beneficios neutros! Parasitismo descarado. Não quero ser atravessada como calçada sob a qual se caminha, como porta pela qual se rompe, como cama que se abre e no seu meio se deita. Isolamento perfeito. Nada mais quero com o mundo lá fora. Espaço meu. Dá me espaço! Que pedido ridiculo em termos fisicos! Por mais que queiramos nunca estámos sós. Hoje quero sair só. Permite que o meu corpo parta, deixando o teu para trás, que a minha mente voe livre por entre as partículas da imaginação. Liberdades restringidas a condições matemáticas referentes aos planos. Planos? Plenas abstracções do que nos é pálpavel. Como posso eu acreditar que rectas são infinitas se o meu corpo é feito de curvas? Tridimensionalidade das grandezas do binómio corpo-mente. Electrões, atmos, moléculas, bactérias, vírus, polimeros, pessoas – há sempre algo que nos acompanha mesmo que só seja a nossa mente. Eu só queria sair só!...

quarta-feira, abril 26

Gratificante Loucura II

Mais um dia abençoado pelos sentimentos que se fazem sentir duros sobre as carnes fustigando continuadamente a mente. São mais não ter que ter. Resultados nulos da substração da tua grande ausência pela tua comparência. É zero, é nada, é coisa nenhuma que não se vê, não se toca. Tantos sentires exponenciados por estes pensamentos que me percorrem aquando das horas vagas em que a minha mente desocupada insiste e persiste em manter te vivo. Larguei-te o corpo mas tu não me largas a mente! Prevaleces ao tempo abrigado nos passados conservadores dos registos que guardei de ti. Memorias que não se agarram e que das mãos escapam. Essências tuas que perduram à pútrida solidão. Aromas de hoje semelhantes ao de um ontem que juntos compartilhamos. Agora virias, e vens, tomar o lugar imediatamente ao meu lado, tocarias-me, e tocas-me. Sinto o ontem como que de hoje se tratasse. Utupia. Não sinto a tua mão fechada sobre a minha.... É loucura viver das quimeras, das fugas à realidade quebrante do ser. Ser? Não sei se sei ser de novo.
Gratificante Loucura

Dou por mim sentada à janela respirando sem me aperceber o ar desta atmosfera vazia pela tua presença não conter. Inspiro ausências que fluem em mim ao sabor das correntes sanguíneas. Sentimento que toma o corpo como rio que percorre sem se descurar do mais pequeno recanto. Cargueiros atestados a emotividade. Expiro saudades. Sem me aperceber, vou apenas sobrevivendo aos ares das faltas de ti. Culpo a vista que não antecipa a tua chegada ao olhar ao longe. Condenação sem fundamento pois por mais que dois olhos juntos mendiguem tu não vens... Recuso a solidão em prole da ilusão. Prefiro, numa tentativa tola, ser louca do que me sentir metade do que sou. Para que ser una se incompleta me sinto? Faço da insanidade refúgio que me acolhe onde me abrigo sob o manto das memorias. Quero respirar! Viver de novo os aconchegos passados, os sabores que tanto ontem me contentaram. Hoje nada tem graça! Coisissima nenhuma me aquieta o espirito – este alcool está empobrecido! Bebo-o como quem não tem palato algum. Paladar ausente! Copo solitário disposto sobre a mesa sem par – o teu. Inebriantes sentimentos que em mim navegam... Fermentações do que já vi vivido julgado esquecido porém hoje revivido. Comparações temporareis do que fui já não sou mais. O que fomos perdeu-se nas conjugações verbais.A vida perdeu brilho como as coisas perderam graça. Sou louca e estou só. Tenho me a mim a metade, a outra partiu e o que sobrou a loucura levou...Nada ficou.

quarta-feira, abril 5

Voa doçura
Insipia calma esvoaçante
Saturadora dos ventos que a carregam
Acolhimentos nublosos
De braços que se escapam
Por gasosos serem ao toque
Das minhas mãos pequenas

Voa simplicidade
Asas rasgantes do firmamento
Mundos sólidos não meus ao longe
Ternura que se perde sem matéria
Das luzes solares e ambientes estrelados
Sob os quais imaginações caminham
Ao sabor da doçura.

quarta-feira, março 29

Vontades Inclinadas

As brisas sompram sem destino pelo firmamento afora. Como que sobre a minha mente caminhassem os sentimentos voláteis das inconstâncias tão tipicamente humanas. Massas de ar, condensações húmidas cujas suas colisões vertidas do céu me molham. Vontades incompativeis, querer de tanto não querer sentir-me paradoxalmente complicada. Sou não o outro e tudo o que sei acaba por aqui. Termito da vida minha em cada ponto final das frases por mim escritas, inscritas nos papiros das vivências, transcritas em expressões que não negam ao mundo as insatisfações dos meus olhares. Quando me inclino em frente e vou, volto e caio de costas para o que não vejo por não haver desejo de o fazer. Dor efémura e aguda que se mantém mesmo quando as marcas se vão. Cicatrizes invisiveis de situações mal curadas. Há tanto para além das barreiras que almejo ultrapassar que o medo me impede de enxergar, destas dores no corpo que me impedem de seguir. Rampas da progressão que devolvem o meu corpo aos pontos iniciais da marcha. Retorno com esperanças renovadas, expectativas exponencialmente aumentadas e tento. Nada consigo. Desafios nas inclinações das vontades.

sexta-feira, março 24

Alar do Pensamento

Humedeço os olhos com o medo que sei existir em mim. Tamanhas perturbações mentais que me apartam da segurança de um sorriso francamente sentido. Anseio que o tempo que passa por mim ágil pare. Sofregamente exasperada. Promessas quebrantes de um futuro melhor contidas no olhar outrora pujante. Que minutos pacedeçam asfixiados pelas mãos da insegurança de um regaço mal formado. Mentes frágeis. Insuficiente capacidade de assimilação de outras épocas tão distantes das minhas. Miradores em que não se avistam faróis. Vigas do tremor que me sustêm, que me fundam a terra e, com esta, à vida. Mãos. Dá-me a mão – sim -, a tua mão. Antes que com a alma pesada e o corpo entorpecido caia sobre terrenos duros da exaustiva realidade.

quarta-feira, março 22

Memoriais da fotografia

Desconheço os porquês destas minhas viagens até ao passado que se findou há tanto que, contudo, hoje me relembro. São pequenos flashes estácticos capturados por diafragmas visuais que os pararam no tempo. Registos que me retornam com cores singularmente vivas de uma fotografia inabalável pelas chuvas que se arrastam ao longo do meu corpo sadio exposto às regras naturais da terra. Recordar. Abstrações plenas de uma actualidade esquecida. É um deixar fluír a mente por entre trilhos escuros de túneis aos confins das galerias suspensas por pretéritos perfeitos. É um fui não um ia, pois, se tal fosse assim significaria que era uma cena interrompida e não acabada como é esta fotografia. Brilhos de sépia nos meus olhos. Acastanhados tons dos fins de tarde que as nossas íris viram passar juntas em dilatações simultaneas numa total absorção de cores. Cenas perfiladas em tempos mais-que-prefeitos. Doces líquidos mergulhados pelos nossos corpos emulsionantes dos espectros emitidos em riscas ondulatórias dos sentimentos mutuamente nutridos. Reminiscências luminosas cristalinas convergidas na retina. Visões revividas. Paixões ressentidas pela escassez do tempo. O passado não corre com pressas e medos de deixar voar o presente. Então beijamos nos de novo, sob a benção da memoria, os lábios que não eram nossos. Saliências carnais que roçamos em eras de silênciosos debates emocionais. Tantas palavras sublimares às tintas das molduras onde hoje moramos nós, albuns em que mais não vivo. Desguto o teu aromo encorpado na minha boca seca como se a tua ainda estivesse colocada sobre ela. E o meu corpo cede a pressão do teu em total rendição aos cheiros dos toques das tuas palmas pousadas sobre a minha nuca. Memoriais erguidos em mim às lembraças tuas.

terça-feira, março 21

Grãos de Sentimentos Díspares

Lavei os meus olhos com o desgosto de te ver partir indefinidamente até os limites da minha longevidade e mais além. Desabamentos húmidos de sentimentos escorridos pelas encostas abaixo do meu rosto são essas as minhas lagrimas sedimentares fracamente unidas aos meus olhos. São expressões da vista cega por águas que não secam nos terrenos áridos das dores interiores sentidas como minhas. Possuo-as sem quereres de as ter pois, de mim, são indissociaveis. Tristezas incomensuráveis que albergo no meu intimo e que da minha vida fazem sua. Vivemos conjuntamente respirando sincronizados ares que me faltam no decorrer dos ciclos da vida que me falha. Credores da alma! Mutiladores da homeostasia que julgei tanto ter visto fluir em mim, que afinal era só um leito seco. Flagelações internas executadas pelas lágrimas que me afogam progressivamente no retornar das enchentes sentimentais à praia . Marés abstractas de líquidos palpáveis. Ondas densas de emaranhados mentais confusos saturadores dos meus prantos incessantes. Memórias nossas que se apartam da areia estilhançando-me a mim durante a viagem. Não vás!, que me fragmento em eus maiores que eu por nestes últimos haver tão pouca matéria para tantos sentimentos coexistirem. Choro a dor que é sentir o mar partir. Derramando recordações outrora vividas por estes meus olhos cansados pela distância da partida. Hoje sou somente palco das cruzadas travadas entre a felicidade e a tristeza. Sou os remorços lançados sobre as rochas que um dia nos sentiram sentandos sobre elas. Vazante que me apartou da tua mão que, seguramente, nunca mais vou sentir pousada sobre a mim em cima dos areais hoje tão sós. Vaga que me tirou tão bruscamente os aconchegos. Água que se vai sem chance de voltar a não ser através das lembraças reproduzidas de uma felicidade que não se vive; já se viveu!

quarta-feira, março 15

Tanto de mim que existe em ti, Lisboa

A luz perde-se em mim
Como afluentes que transbordam sob suas margens delimitantes
São recordações nossas que de mim extravasam
Sem escolha em ser outra coisa se não somente memórias
Adociadas, roçadas lábio a lábio
Bebidas das nossas almas carentes despidas crentes
Em constelações de sonhos maiores
Que nós e que em nós vivem
Luz estrelada reflectida nestas calçadas polidas da velha Lisboa
Que percorremos com mentes descalças
A par das nossas mãos enlaçadas ao jeito de evocações liricas
De poemas que jamais lirei por não haverem poetas
Que dêm abrigo aos gestos que confidenciamos cumplices aos
Rossios meus em ti, desbotados pela vivacidade ausente dos risos
Soltos em recantos de exposições enologicas portuenses
Licores saturados de sensações mutuamente sentidas
Acolhidas em regaços de Lisboa.

quarta-feira, março 8

segunda-feira, março 6

O'Neill

- Já te disse, vai chover – admoestou O’Neill pai
Mas eu já sabia, muito antes de tais palavras serem pensadas
Que a chuva viria muito antes do sol se pôr, do dia acabar
Desde sonho transfigurado acordar.

- Leva o guarda chuva – continuou
Não vejo sentido nem motivo, pois água de algum lado virá
Quer seja do céu ou da cara, o rosto me molhará
E mesmo que confuda chuva com lágrimas que me pingam
O sentimento permanecerá.

- Não levo!
Nem ele, nem eu...

quinta-feira, fevereiro 16

Sinto o teu riso na almofada
Ouço o teu olhar na fronha sob a qual me deito
Extasiado pelo teu efeito q em mim vejo surgir
Por entre os lençois de ebano
Onde nos quais hoje me deito sozinho
Que um dia t viram coberta
Com os meus olhos.

Véus ignorantes desconhecedores
Da dádiva que é aconchegar-te a ti
Em noites geradas por quentes enlaços
Findadas em lençois húmidos
Que o nosso suor tocou e molhou
Num dia de odores.

Falta me a expressão do teu corpo
À minha visão dessa proclamação
Da beleza naturalmente simples
Decorrida da timidez das tuas mãos
Da curva do teu pescoço abatido
Pela fervura da minha caricia.

Carícia de Ontem, Fantasia de Hoje

sexta-feira, fevereiro 10

Inspiraçao Revivida

A inspiraçao retorna fazendo de mim alma revivida. Como é boa a sensaçao de te ver viver de novo em mim, de te sentir correr-me como algo que no sangue me deu e neste me dá. Incorporas-me, utilizando-me como veiculo para te expressares. Dou a minha mão para que a tua voz ganhe textura. Juntos personificamos a unicidade. Ser um sendo simultaneamente dois. Dualidade necessaria à nossa escrita. Sussuras-me frases que às quais inoculo os poucos sentimentos que sei.

domingo, fevereiro 5

Na ponta da pena

Na ponta da pena a minha vida rasga o papel. Cada frase escrita é fissura que se inicia e prolonga como cada dia que nasce e se estende. Vejo sendo cego que fantasia sobre aquilo que toca sem ver. Faço do engano venda que me cobre os olhos todavia insuficiente na tentativa de encobrir o cenário que delimita a minha mente à vida. Sou corpo preso a um espaço sensível, onde emoções se condensam na forma de mãos que me sufocam e vão me matando. Estes sentimentos, tamanhas forças brutas, que me aconchegam ao seu abraço e me esmagam são catalizadores do meu desfragmentar. Vou me partindo em pedaços como vidro estelhaçado quando atirado de em contro ao chão. Nas poças das minhas proprias lagrimas molha me o que eu já fui, o que fazia de mim eu, o que quando aglutinado me tornava pessoa. Que sou eu se não fraca porcelana mal colada que até o sopro das palavras derruba. Quis ser tanto, mas sou tão pouco. E enquanto fui tudo afinal era nada e à falta de disfarce caio nas malhas depressivas destes sentimentos. Mesmo não querendo vou caindo em sombras que me sugam a força que um dia existiu na minha fortificada mente. Sem paredes, alicerces, ou qualquer outra merda que me sustenha sou vulnerável. Não me ataques pois esqueci como defesas se erguem. Sou fraca e tenho medo. Sou nada e penso. Sou lágrima...que me acaricia o rosto à falta de uma mão que me ajude a levantar.

domingo, janeiro 29

De que vale
Abrir a boca e falar
Quando não me ouves.

De que vale
Abrir-me e expor-me
Em frescos deixados ao pó.

De que vale
Mostrar-te quando és cego
Aquilo que vejo.

De que vale
Sentir em vez de pensar
Quando tu não me sentes

De que vale
Chorar quando as minhas lagrimas
Nao te molham o rosto.

De que vale isto tudo
Quando é te irrisório
E somente nada....
Oxalá

Aparto me do mundo que um dia para o qual morri
Sufocada por palavras que teimaram em não sair
Lágrimas que ficaram por serem derramadas
Por substituição de sorissos que não senti.

Represento na minha vida
Nao o meu papel, se calhar o de outro qualquer.
Em que grito sem soltar a voz e falo mais no silêncio
Que sobre mim se arrebata quando a noite me toma
Do que em cafés ruídosos, atolados de gente e fumo.

E quanto mais me perco para a minha solidão
Menor é o desejo de me tentar enquadrar
Nas ruas desgastadas pelo falso caminhar
E nas esquinas onde se acumula podridão
De gente que fala sem razão.

Comigo, só, tenho me a mim
Apoio constante que não me falha
Verdade que não me engana
Enquanto todo mundo perece à merce de abraços
Mentiras dissimuladas no calor de regaços.

Prefiro sentar me a margem do Tejo
Como um espectador que ve por si passar o rio
Do que ser parte de tamanho teatro sem brio.

Escolhas minhas.

domingo, janeiro 8

Sentimento do Carente Crente
Transponho a barreira protectora do meu ser.
Mendigo por mãos de amparo
Palmas plenas de amor
Calores de regaços maternais
Aconchegos para os meus sentidos
Perdidos, mutilados pelas lagrimas
Derramadas ao sabor do sofrimento
Gotículas de água insaciantes
Da sede de vida.

Soltem me a alma indomável
Dessas camisas de força rigorosas
Camufladas em abraços reconfortantes
Enganos ledos da falta de visão do carente
Crente na compaixão do semelhante.
Não me deixem, imploro
Enclausurada a um canto nauseabundo
De salas pintadas com tons sombrios.

Agacho-me perante a solidão
E a tristeza pinga me do rosto
Em formatos aquosos
Que para os quais olho e enxergo
O reflexo da minha alma vazia
Enquadrada nos contornos da minha mente
E, choro.

terça-feira, janeiro 3

Ágora de absolvição

Professo a minha fé ajoelhada nesta edificação milenar corruída pela acidez da água que Zeus acolhe no seu regaço e que sobre a terra derrama. Panteão grego abalado pela força contida na palma do tempo de Cronos. Outrora foi local de cultos a ti prestados Atenas sábia presentemente é templo reduzido às colunas esculpidas por mão divinas a céu aberto. Peço-te encarecidamente que desças do Olímpo apartando-te assim do regaço da reflexão tua mãe e te juntes a mim. Apressa-te a vires em meu alcanço que Hades acena-me com sorrisos joviais cúmplices do sombrio ser que sozinho caminha sedendo de vida. Não te atrases que a inocencia cega-me ao aproximar os meus olhos ao sol e perecer às mãos do engano não é meu intento. Preciso de saciar a aridez da minha alma com a razão que brota da tua boca. Instrui-me nas artes da guerra enquanto Temis me incute sensatez na decisão. Temo sucumbir às armadilhas dissimuladas pelo requinte dos frascos que as acondicionam que me entorpecem o pensamento. Deles não me esconder. Ilumina o chão periclitante desta acropole desbotada pelo vinho que em mim corre antes que a vontade desfaleça em folhas secas. Astreia pára de cultivar pureza no meu corpo conscuporcado pelas orgias a que me entreguei sob apanágio de Dionisio.Héstia és deusa cujas expressões não mentem. Nos teus olhos leio-te a alma reprovadora. Atenas vem a mim que ouço passos violentos apressados a virem ao meu encontro. Hermes entregar-te-á a minha mensagem de suplica. Abençoa-me com a espada que ergues sem vacilo antes que Pandora me encontre.