domingo, março 18

Desassossego Doloroso

Reviro os olhos para o meu interior, para que as minhas entranhas possa eu visionar claramente e, por conseguinte, compreender este desassossego sem nome que me assola. É nesse espaço entre a pele e as víseras, o exterior que aos outros dou e o meu íntimo intáctil, que se alojam estes inquientantes sentimentos. É daí que sorvo as sensações que me embebedam o espírito e extraío a inspiração. Este estado periclitante de pêndelo é catalizador da minha escrita. Não posso fugir dos meus ímpetos criativos, não posso fugir de mim mesma. Estas dores evocadas deliberandamente fustigam-me continuadamente sem autorizações superiores da razão.Continuadamente me sufocam, continuadamente não se cessam, continuadamente não se findam; permanecem. Eu sei; do que me preenche estou eu consciente. Basta que me abraçe, com as minhas mãos trémulas, para sentir os poros saturados pelas emoções que exasperadamente tentam vir à tona. Os arrependimentos impedem que o leito do meu âmago seque e a minha alma, por fim, sossegue. A minha alma não descansa e o cansaço repousa à flôr da pele.

domingo, março 4

Nós de Saudade

Não há dia que passe que eu não conte a falta que me fazes. É uma acção com justificação, que decorre naturalmente da minha existência um pouco vazia. E por sozinha sempre estar, a tua lembrança é realidade que me assola. São esses pensamentos que me impedem de acordada dormir, por forma, que, mesmo querendo, não poderia sonhar com outra coisa. Sonho contigo de olhos bem abertos para o mundo do qual partiste em direcção a um horizonte distante, lá bem perto do incerto. Arriscaste em prol do mais viver, ao passo que eu, presa à consistência de uma rotina certa, permaneci atracada pelas amarras da comodidade ao porto que acolheu o nosso apartar. Ganhaste leme de navegar, velas de depressa andar, mastro de ao longe avistar terras por palmilhar. O que depressa tomei eu consciência foi o quanto mutável é o que se avista. Deduzem-se regras das observações prolongadas sem se ter em conta que as variáveis se alteram de modos que não se cogitam e, por vezes, não se vêm. Tudo perece a certo ponto mas eu tomava a minha vida como certa. Todavia, o percurso oscila como o rasgo que o teu barco deixa ao provocar o mar enquanto por este atravessa, atestando a capacidade do veleiro em mais nós alcançar e os meus não desfazer.