quarta-feira, junho 28

Evasão.
Sou pêndulo e oscilo, oscilantemente instável - deslizo.
Vagueio errante, levando a sombra de mim,
Companhia par do meu eu oco,
Carne flagelada pelo ricochete ecóico.
Vozes que já não ouço, icones
Datados aos passados amplamente distanciados
Dos hojes que seguro sobre a caneta e escrevo.
Esferografia alada.
Fonte que me asa a essência terrena
Que me evade nas suas asas de tinta.
Quebrantes voares dos céus de hoje,
Voos de rota ao passado.

segunda-feira, junho 19

Conformismos Idos

Este episódio vive em mim, somente, sem datação nem espaço temporal. Lembro-me da temperatura amena que se fazia sentir. Do espaço sobraram-me memórias imprecisas, temo, não ter sido tempo mas sim teu corpo quente contra o meu que se fez sentir sereno ao me trespassar que me aqueceu as reminiscências. Recordo-me com nítidez as visões fotográficas pela dilatação da minha objectiva ocular ao te ver fluir com tamanha leveza que julguei brisa que nos envolve num beijo que se demora e quando parte sua presença permanece como se ainda estive presente. Marcos além do tempo, desse dito tempo de juntos sermos, de negarmos conjuntamente a distância corporal. Ímpetos que nos reportavam magnéticamente um para o outro, força electromotriz incontornável que, aos sentires das mesmas, nossas bocas se calaram e a voz que desta brotava era melodia desejada. Foi desejo, areal do ensejo, brisa oportunista que num levantar mais grosseiro deixou teu corpo exposto ao meu olhar de desejo. Fui impelido contra o teu corpo, mão que cuja cara nunca deixou ser vista, desta sobra-me as marcas da sua investida, o pesar da alma de te sentir exausta pelo tempo que se conta desda tua partida. Vagas que nos molharam os membros, humidificaram-me agora a cara. É este o sal das memórias empedradas. Fui Ícaro em teu corpo alado, Teseu no teu mar Egeu que navegara, Gama que dobrara teu cabo de perdição. Perdi-me para ti, numa emoção que me consumiu, visão mais que perfeita que se chamava amara. Passados que substituiram os termos, de perfeito a partícipio passado – esquecido, perdido, ido. Morto.

domingo, junho 4

Cores suavizadas pelo curtir do tempo.
Tintas que secaram ao serem escorridas através dos
Esculpidos leitos ao longo do rosto.
Tuas nuvens carregadas, teu semblante pesado
Fartos fardos empelhados em cima dos teus ombros.
Reminiscência icónica tua - teu rosto de dor.
Expressão vertiginosa do declínio do pundonor.
Resta de ti ave sem asa.
Homem sem palavra alada
Somente árvore abalada.
Ramos teus lambidos pelo vento
Fustigados pelos horrores deste tempo
Deuses sem templos.
Ecóico amor de outros tempos
Orgias bebedoras dos contratempos.
Haveís Vós, Temo Não Terdes Visto

Haveís ouvido vós, única vez que fosse,
As notas das nossas vozes quando, em uníssono,
Se unem e se amam nos recantos das pautas
Inscritas nos traços das claves de sol?

Haveís saboreado vós, demoradamente em
Seus palatos, as texturas acetinadas da pele
Que a vós foi dada à expressão de sua fome
Trémula, exasperante de sua boca?

Havéis reparado vós, em meus sentimentos alados,
Meus rios descurados, jardins de líros maltratados,
Rosas apagadas, rubor sem compleição de minha tez,
Lívido caule sem flôr?

Haveís vós olhado ao seu dorso vendo me caminhar?
Não, vós não me haveís visto, nem dito como icónica
Imagem talhada nas suas emoções deslavadas, a horrizada
Sensação de ser se abandonada pelas águas que secaram,
Cujos céus negaram o verter e seco meu cálice deixaram.

Haveís colhido vós, minhas sépalas partidas fluantes
Deambulantemente encantadas pelas cores do vento?
Vistes vós me fragmentando, errando sem direcção
Além destes nossos tempos em que não havéis fazido
Nada mais que me fustigar a coroa do meu enraizamento
E de estame em riste meu envenenamento.

sexta-feira, junho 2

Penso e largo o que pensei – tento.
Contudo, sei que falhei.
Penso, esqueci-me do que sei.
Esquecido ficou o que julguei.
Preso a mim está o sentimento que errei.
Não sei porque contra isto lutei.

É pérfido e malicioso,
De tenro aconhego,
Me manipula, me prende,
Tira-me todos os desejos
Substitui os ensejos pelos
Ausentes beijos.

São aguçadas lanças trenspassando o ar
Se vierem de ti matar-me-ei primeiro.
Vassalagem aos sentimentos
Escrava dos acasos que nunca quis dar asas
Que alados um dia se tornaram
De mim a ti viajaram.
(Pareçe-me que nunca mais me retornaram.)

Vagarosas horas que lentas presistem
Insistindo nas corretentes dos leitos,
Que tememos, eu ao menos, ja terem ido.
Escondo-me, são os intintos.
Inebriações dos vinhos tintos
Dou lhe a alma da carne
Carne dos meus sentidos
Ímpetos dos destinos.

Contra as conjecturas destas
Linhas brancas saturadas
Suspiro e desfaleço,
Perco a vida, o rumo.
Sei, não te mereço!

quinta-feira, junho 1

Sentimento Tosco

Olho-te minuciosamente o rosto
Sobre o desgoto de não mais o ver.
Tremo a insegurança de te perder,
Nao mais ver e então perecer.
Temo os fins e teus não retornares.
Desejo o apartar nas minhas mãos matar.

Ameaçantes desabares tal pulsante aniquilar,
Mais não posso que esperar,
Secretamente desejar,
Confrontos vaivem de vir e ir
Não te deixem partir.
E tu possas, então, ficar.
Periclitante felicidade sustida p’lo
Ar que tua presença me dá,
Se partires me faltará!

Expressões do teu corpo deposto
Tamanhos sentimentos toscos,
Sem os quais serei sempre louco.
Proeza da arte que arranha,
Alma que sofre sua entranha,
Que transfigurando-a aos pedaços
Dá de si sua façanha.
Rendido deixa me a face surpresa
Por preso ter sido um dia
Por amarras que não desprendiam
Até ao dia da ira da partida.