segunda-feira, agosto 29

Imutabilidade
Faço uma pausa. Desejo que este instante permaneça imutável. Expiro e inspiro, tais movimentos respiratórios imprescindíveis à vida, e nesse acto complexo sou invadido por recordações; expiro e tudo retorna ao seu lugar; inspiro e tudo me inunda com velocidade extrema. E é nesta situação oscilante que me sinto periclitante, vagueando entre a passividade e a actividade. Analiso este pensamento, dissecando-o em pequenos fragmentos, tentando alcançar a verdade do sentimento, a verdade acerca do que me rodeia, ao fim ao cabo de mim. Concluo, que somente a mim me cabe a decisão de presidir a assembleia cínica, no qual me sento todos os dias, acomodado a esta realidade como um sedentário deputado, cuja vontade se desvaneceu um dia, dia esse em que se apercebeu que era um mero joguete neste grande xadrez, e que não era importante. Era substituível. Não obstante, as minhas palavras eram vazias, ecoavam nos ouvidos de outrem, pareciam, ao fim ao cabo, não terem teor, nada. Por conseguinte as acções, a luta que travava pelas minhas convicções era inglória, nada se alterava. No fim de contas, não era só aquele instante em que parei e reflecti que pretendia ser imutável, a minha vida já o era.

Sem comentários: