quarta-feira, janeiro 10

Falência Emocional

Ser-se cego é estupidamente dispendioso para o capital emocional, pelo que, para viver sem vista não há modo de escapar às privações. Para suportar o ledo engano investimos nas vendas ilusórias acetinadas, aprazíveis para as pálpebras sobre as quais repousam, com o dinheiro poupado pelos cortes orçamentais noutros adornos superficiais. Tomamos como despesa luxuosa o bem-estar, abdicando deste em prole da gula do engano que nos vai, progressivamente, sugando a tão poupada felicidade que tentamos sofregamente manter. Sacrifícios na virtude da sobrevivência. Jejuamos com venda posta na expectativa que esta nos alimente as velhas carências. Sentimos a difusão do ar pelas nossas entranhas, preenchendo-nos de vazio que em nada disfarça a fome que nos consome. Somos cegos, não surdos! A venda é apenas uma película rosa carmim posta sobre o mundo. Alimentamos um engano cuja génese teve lugar em nós mesmos e por amor a um filho parido não o renegamos, negando-lhe o temperamento tenro monstruoso. È a extensão do nosso fim, alimentada com a comida que tiramos da nossa boca para colocar na dele. Vemos um mundo que não se faz ouvir como se mostra. Já não há dinheiro para silenciar o mundo. Esta é a paga por tentarmos manter viva uma chama antiga extinguida.