quarta-feira, março 29

Vontades Inclinadas

As brisas sompram sem destino pelo firmamento afora. Como que sobre a minha mente caminhassem os sentimentos voláteis das inconstâncias tão tipicamente humanas. Massas de ar, condensações húmidas cujas suas colisões vertidas do céu me molham. Vontades incompativeis, querer de tanto não querer sentir-me paradoxalmente complicada. Sou não o outro e tudo o que sei acaba por aqui. Termito da vida minha em cada ponto final das frases por mim escritas, inscritas nos papiros das vivências, transcritas em expressões que não negam ao mundo as insatisfações dos meus olhares. Quando me inclino em frente e vou, volto e caio de costas para o que não vejo por não haver desejo de o fazer. Dor efémura e aguda que se mantém mesmo quando as marcas se vão. Cicatrizes invisiveis de situações mal curadas. Há tanto para além das barreiras que almejo ultrapassar que o medo me impede de enxergar, destas dores no corpo que me impedem de seguir. Rampas da progressão que devolvem o meu corpo aos pontos iniciais da marcha. Retorno com esperanças renovadas, expectativas exponencialmente aumentadas e tento. Nada consigo. Desafios nas inclinações das vontades.

sexta-feira, março 24

Alar do Pensamento

Humedeço os olhos com o medo que sei existir em mim. Tamanhas perturbações mentais que me apartam da segurança de um sorriso francamente sentido. Anseio que o tempo que passa por mim ágil pare. Sofregamente exasperada. Promessas quebrantes de um futuro melhor contidas no olhar outrora pujante. Que minutos pacedeçam asfixiados pelas mãos da insegurança de um regaço mal formado. Mentes frágeis. Insuficiente capacidade de assimilação de outras épocas tão distantes das minhas. Miradores em que não se avistam faróis. Vigas do tremor que me sustêm, que me fundam a terra e, com esta, à vida. Mãos. Dá-me a mão – sim -, a tua mão. Antes que com a alma pesada e o corpo entorpecido caia sobre terrenos duros da exaustiva realidade.

quarta-feira, março 22

Memoriais da fotografia

Desconheço os porquês destas minhas viagens até ao passado que se findou há tanto que, contudo, hoje me relembro. São pequenos flashes estácticos capturados por diafragmas visuais que os pararam no tempo. Registos que me retornam com cores singularmente vivas de uma fotografia inabalável pelas chuvas que se arrastam ao longo do meu corpo sadio exposto às regras naturais da terra. Recordar. Abstrações plenas de uma actualidade esquecida. É um deixar fluír a mente por entre trilhos escuros de túneis aos confins das galerias suspensas por pretéritos perfeitos. É um fui não um ia, pois, se tal fosse assim significaria que era uma cena interrompida e não acabada como é esta fotografia. Brilhos de sépia nos meus olhos. Acastanhados tons dos fins de tarde que as nossas íris viram passar juntas em dilatações simultaneas numa total absorção de cores. Cenas perfiladas em tempos mais-que-prefeitos. Doces líquidos mergulhados pelos nossos corpos emulsionantes dos espectros emitidos em riscas ondulatórias dos sentimentos mutuamente nutridos. Reminiscências luminosas cristalinas convergidas na retina. Visões revividas. Paixões ressentidas pela escassez do tempo. O passado não corre com pressas e medos de deixar voar o presente. Então beijamos nos de novo, sob a benção da memoria, os lábios que não eram nossos. Saliências carnais que roçamos em eras de silênciosos debates emocionais. Tantas palavras sublimares às tintas das molduras onde hoje moramos nós, albuns em que mais não vivo. Desguto o teu aromo encorpado na minha boca seca como se a tua ainda estivesse colocada sobre ela. E o meu corpo cede a pressão do teu em total rendição aos cheiros dos toques das tuas palmas pousadas sobre a minha nuca. Memoriais erguidos em mim às lembraças tuas.

terça-feira, março 21

Grãos de Sentimentos Díspares

Lavei os meus olhos com o desgosto de te ver partir indefinidamente até os limites da minha longevidade e mais além. Desabamentos húmidos de sentimentos escorridos pelas encostas abaixo do meu rosto são essas as minhas lagrimas sedimentares fracamente unidas aos meus olhos. São expressões da vista cega por águas que não secam nos terrenos áridos das dores interiores sentidas como minhas. Possuo-as sem quereres de as ter pois, de mim, são indissociaveis. Tristezas incomensuráveis que albergo no meu intimo e que da minha vida fazem sua. Vivemos conjuntamente respirando sincronizados ares que me faltam no decorrer dos ciclos da vida que me falha. Credores da alma! Mutiladores da homeostasia que julgei tanto ter visto fluir em mim, que afinal era só um leito seco. Flagelações internas executadas pelas lágrimas que me afogam progressivamente no retornar das enchentes sentimentais à praia . Marés abstractas de líquidos palpáveis. Ondas densas de emaranhados mentais confusos saturadores dos meus prantos incessantes. Memórias nossas que se apartam da areia estilhançando-me a mim durante a viagem. Não vás!, que me fragmento em eus maiores que eu por nestes últimos haver tão pouca matéria para tantos sentimentos coexistirem. Choro a dor que é sentir o mar partir. Derramando recordações outrora vividas por estes meus olhos cansados pela distância da partida. Hoje sou somente palco das cruzadas travadas entre a felicidade e a tristeza. Sou os remorços lançados sobre as rochas que um dia nos sentiram sentandos sobre elas. Vazante que me apartou da tua mão que, seguramente, nunca mais vou sentir pousada sobre a mim em cima dos areais hoje tão sós. Vaga que me tirou tão bruscamente os aconchegos. Água que se vai sem chance de voltar a não ser através das lembraças reproduzidas de uma felicidade que não se vive; já se viveu!

quarta-feira, março 15

Tanto de mim que existe em ti, Lisboa

A luz perde-se em mim
Como afluentes que transbordam sob suas margens delimitantes
São recordações nossas que de mim extravasam
Sem escolha em ser outra coisa se não somente memórias
Adociadas, roçadas lábio a lábio
Bebidas das nossas almas carentes despidas crentes
Em constelações de sonhos maiores
Que nós e que em nós vivem
Luz estrelada reflectida nestas calçadas polidas da velha Lisboa
Que percorremos com mentes descalças
A par das nossas mãos enlaçadas ao jeito de evocações liricas
De poemas que jamais lirei por não haverem poetas
Que dêm abrigo aos gestos que confidenciamos cumplices aos
Rossios meus em ti, desbotados pela vivacidade ausente dos risos
Soltos em recantos de exposições enologicas portuenses
Licores saturados de sensações mutuamente sentidas
Acolhidas em regaços de Lisboa.

quarta-feira, março 8

segunda-feira, março 6

O'Neill

- Já te disse, vai chover – admoestou O’Neill pai
Mas eu já sabia, muito antes de tais palavras serem pensadas
Que a chuva viria muito antes do sol se pôr, do dia acabar
Desde sonho transfigurado acordar.

- Leva o guarda chuva – continuou
Não vejo sentido nem motivo, pois água de algum lado virá
Quer seja do céu ou da cara, o rosto me molhará
E mesmo que confuda chuva com lágrimas que me pingam
O sentimento permanecerá.

- Não levo!
Nem ele, nem eu...