terça-feira, fevereiro 20

Pesar, Mais Que Lágrimas

Derramei a essência das minhas vontades voláteis em poucas das combinações possíveis das palavras em frases, e agora que as releio julgo que as palavras são escassas no que toca à explicitação dos sentidos da carne. Coloquei mais de mim em todas as frases do passado do que nas situações a que estas se referem; fui mais papel do que gente que teoricamente sente o que o vive, diz o sente, sorri e não mente. Omitindo-me, fui me, progressivamente, afogando nas pilhas de memórias que à minha volta construí, alimentando-me de um papel incapacitante que me desnutriu. Enveredei por meios de viver que apregoavam facilidades e uma felicidade que não necessitava do esforço do trabalho para subir na vida a pulso. Sucumbi a uma ilusão auto infligida que desenhava um quotidiano à imagem dos meus desejos recalcados pelo peso de uma realidade difícil de suportar, que vi abatida sobre a minha estrutura óssea frágil desorientando-me a minha já perdida mente. Cai nos clichés de sonhar acordada com uma vida que na realidade se afigurava tão diferente. O importante acabou não proferido e guardado no aconchego do papel perdido. Os sentimentos presentes nessas folhas antigas revoltaram-se ,por fim, fustigando os meus sentidos que hoje sentem de novo e relembram-me que ser-se de carne é sinonimo de ser-se vivo.

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