quarta-feira, novembro 30

Ângulo 90º
que a tua sombra faz ao embater no chão.
Cada esquina é um mundo desconhecido, tantas vezes temeroso quanto igualmente ansiado. Imprimo o peso dos meus pés contra o chão, passo espaçado e seguro, sem vacilar desloco-me para aqui e para ali. Esquina atrás de esquina deparo-me com a sombra do teu corpo projectada no alcatrão da estrada que nos separa. A minha mente enloquece, o meu corpo estremece. Tento recriar à luz da carne os contornos dos teus membros obscurecidos pela luz difusa de um final de tarde. Reproduzo com fragmentos de memorias a tua voz. Demoro-me na lapidação do teu ser, tentando recriar todos os promenores que tenho vindo a assimilar. E, lá naquele canto onda a luz dobra a esquina, permaneces como se soubesses que eu te observo com visões de concupiscência. Castigas-me; com essa tua postura quase soslaia, de quem pretende demonstrar que não vê. Não penso e caminho. De encontro a ti vou diminuindo a distância que entre nos se interpõe. Não penso e atiro-me. Deixo apenas que a tua presença me viole. Não penso e sinto-te à extensão do meu braço e sucumbo às apelativas sensações maquino facturadas pelo pensamento. No final, rio-me destes momentos que nunca poderiam ser gerados por outro sentimento qualquer a não ser o desejo

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