domingo, março 4

Nós de Saudade

Não há dia que passe que eu não conte a falta que me fazes. É uma acção com justificação, que decorre naturalmente da minha existência um pouco vazia. E por sozinha sempre estar, a tua lembrança é realidade que me assola. São esses pensamentos que me impedem de acordada dormir, por forma, que, mesmo querendo, não poderia sonhar com outra coisa. Sonho contigo de olhos bem abertos para o mundo do qual partiste em direcção a um horizonte distante, lá bem perto do incerto. Arriscaste em prol do mais viver, ao passo que eu, presa à consistência de uma rotina certa, permaneci atracada pelas amarras da comodidade ao porto que acolheu o nosso apartar. Ganhaste leme de navegar, velas de depressa andar, mastro de ao longe avistar terras por palmilhar. O que depressa tomei eu consciência foi o quanto mutável é o que se avista. Deduzem-se regras das observações prolongadas sem se ter em conta que as variáveis se alteram de modos que não se cogitam e, por vezes, não se vêm. Tudo perece a certo ponto mas eu tomava a minha vida como certa. Todavia, o percurso oscila como o rasgo que o teu barco deixa ao provocar o mar enquanto por este atravessa, atestando a capacidade do veleiro em mais nós alcançar e os meus não desfazer.

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