terça-feira, outubro 3

Por ti, figura ausente

Por ti, figura ausente, fizeram-se curtas as distâncias, palmilharam-se as diferenças que nos apartavam os corpos até ao ponto em que, juntas, as nossas respirações tornaram-se unas. Por ti neguei ao mundo, negando-me assim a mim, o outro meu lado que a nós era incompatível. Sacrifiquei-me; por um bem que me parecia superior, por todos os momentos em que juntos faziamos sentido, pelo que contigo sentia. Tudo o resto, num ápice, se tornou secundário tanto quanto insignificante. Mudamos, pela acção conjunta que empreendemos ao nos unirmos... Hoje; todas as abdicações passadas me retornam com folêgo renovado, múrmurando lamúrias incessantes, relembrando me de tudo o que não vivi por ti, figura ausente. Mal contigo, pior sem ti... Pior contigo, mal sem ti. A nós não nos foi concedida a benção do equílibrio, mas, sim, o fado de nunca bem estarmos. Esqueçi-me da minha outra face, para que ambos podessemos parecer o mesmo. Humanizaste-me os sentidos endurecidos por uma intelectualidade racionalizada ao extremo. Tiraste-me a razão que me munia. Armaste-me de um sentimento que acalentaste com as tuas parcas palavras. Sucumbi, culpa minha. No fim de contas, distingo, no meio da mescla de sentimentos que me tornei, saudades de contigo fruir a monotonia do nada fazer. Até mesmo esses momentos eu apreciava... Estamos presos, encarcerados, resignados a uma via sem sentido e, mesmo assim sendo, enveredamos na mesma vezes sem conta. Relações ciclícas como a pujança da minha mente que forte se fragmenta e fraca se torna. Vou-me abaixo; desejo que voltes. E voltamos, ao mesmo que nos fez pela primeira vez separar – a grande diferença que entre nós vive. Sempre soube que sentir de pouco valia... por isso mesmo, vivo desta minha memória selectiva que só o bom regista e de uma mente que só o bom recorda. Não quero mais estar contigo, quero somente te relembrar....

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