segunda-feira, outubro 30

Menu Da Tua Curta Vida

Peço exasperadamente a essas forças, que alguém diz haver e que lhes atesta grande força, que me tirem, até que seja à bruta, isto que vive dentro de mim! Rasguem-me!, dissequem-me segundo esses planos axiais do corpo a minha carne ao meio, expondo as minhas entranhas infectadas pelas emoções em que me habitam. Sinto-me apodrecendo por dentro, numa lepra crónica alimentada por um sentimento cuja existência não consigo deixar de negar. Sinto. Sinto muito, lamento. E enquanto escrevo, o quadro clínico agravasse com contribuições em larga escalada da minha mente que persiste na consciência de estar doente - penso em ti.
Um toque comum, aparentemente banal, e nas minhas mãos abriu-se a brecha de entrada à tua vinda.. E entras e vais longe, viajando pelo meu corpo, acomodado no meu sangue impulsionado pelas arritmias cardíacas que o meu coração vai sofrendo em meus ataques de ansiedade em que te espero e tu não vens. São desgastes adicionais à minha saúde que se perde a cada ventilar de falta de ar. A manutenção da minha vida dá lugar a uma insanidade que ocupa uma carne já não una. O que vai sobrando do meu corpo enlouquece, a par de uma lucidez caída na calçada da minha perda. Alojaste-te em todo o lado, chegas-te e encostaste-te, sabe-se lá, ajustaste-te às paredes das fossas em que enterro as minhas memórias. Inscreves-te na parede da minha lembrança. Vives na minha carne, sobrevivendo do consumo dos meus restos. Deliberadamente, te vais deliciando com as minhas vísceras, teu prato do dia, menu da tua curta vida: eu!

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