Memoriais da fotografia
Desconheço os porquês destas minhas viagens até ao passado que se findou há tanto que, contudo, hoje me relembro. São pequenos flashes estácticos capturados por diafragmas visuais que os pararam no tempo. Registos que me retornam com cores singularmente vivas de uma fotografia inabalável pelas chuvas que se arrastam ao longo do meu corpo sadio exposto às regras naturais da terra. Recordar. Abstrações plenas de uma actualidade esquecida. É um deixar fluír a mente por entre trilhos escuros de túneis aos confins das galerias suspensas por pretéritos perfeitos. É um fui não um ia, pois, se tal fosse assim significaria que era uma cena interrompida e não acabada como é esta fotografia. Brilhos de sépia nos meus olhos. Acastanhados tons dos fins de tarde que as nossas íris viram passar juntas em dilatações simultaneas numa total absorção de cores. Cenas perfiladas em tempos mais-que-prefeitos. Doces líquidos mergulhados pelos nossos corpos emulsionantes dos espectros emitidos em riscas ondulatórias dos sentimentos mutuamente nutridos. Reminiscências luminosas cristalinas convergidas na retina. Visões revividas. Paixões ressentidas pela escassez do tempo. O passado não corre com pressas e medos de deixar voar o presente. Então beijamos nos de novo, sob a benção da memoria, os lábios que não eram nossos. Saliências carnais que roçamos em eras de silênciosos debates emocionais. Tantas palavras sublimares às tintas das molduras onde hoje moramos nós, albuns em que mais não vivo. Desguto o teu aromo encorpado na minha boca seca como se a tua ainda estivesse colocada sobre ela. E o meu corpo cede a pressão do teu em total rendição aos cheiros dos toques das tuas palmas pousadas sobre a minha nuca. Memoriais erguidos em mim às lembraças tuas.
quarta-feira, março 22
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