Tudo Perece na Mao do Esquecimento, Excepto Nós....
Tudo hoje me reporta a nós. São murmurios longíquos de um passado que consumamos a dois que, gotejante, hoje me pingam o rosto. Dissabores diários ou talvez apenas de hoje enquanto de ti me vou recordando. Tudo hoje me pesa; as memórias, as imagens mentais que se vão deliniando pouco a pouco com o lápis que a saudade escreve. Não sei precisar o que se passa com a minha vista que hoje tudo enxerga de outro modo; modo esse como nos servimos da casa, os locais onde nos deitamos, as paredes que nos encontraram, os obstáculos que se imposeram nos nossos trajectos, o chão sobre o qual caimos enlaçados nos nossos corpos. Abro as janelas ao ar, ao ar desses tempos que já vão longe, ao ar de outros ares, ao ar que respiraste comigo, ao teu expirar. Inspiro de novo o cheiro teu intensificado pelo desejo te me sentir abraçada por ti como naquele ontem que irrompeste porta a dentro e me tomaste em ti. Já lá vão, caminhando em direcção à morada inexistente do esquecimento, esses reais sentires. Presentemente o teu rosto não é mais que uma ilusão que as minhas mãos fantasiosas acariciam. Não és mais o que para mim um dia foste. És a sombra que me encobre o rosto quando a noite me procura. Pesam-me estes pensamentos secos despojados do encantamento teu registado na minha mente. Temo, tudo mudou e nós também. Procuro em mim a negação do que hoje já não somos. Procuro para mim o que um dia fui para ti, procuro somente um pouco do conforto, não o teu, mas sim, como o teu. Minto, ou talvez omita... São saudades.
segunda-feira, agosto 14
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